A vida é feita de coisas muito variadas, entre elas a própria morte. Hoje morreu um antigo Presidente da República. O que não se sabe é se não terá nascido outro, aquele que o futuro espera para ocupar o cargo. A incapacidade humana para saber o futuro é o que permite uma vida suportável. Se o que há-de vir fosse acessível, a existência dos homens tornar-se-ia um inferno. Viveríamos como condenados à morte à espera do dia da execução. A ignorância salva-nos e abre a possibilidade de uma vida aprazível. Talvez aqueles que se empenham em predizer o futuro sejam verdadeiros amantes do inferno. Vale-nos o porvir ser um animal esquivo, um bicho que se furta a armadilhas e capturas. Sobre o Presidente morto não falo, pois, enquanto narrador, estou proibido pelo autor. Ele lá terá as suas ideias políticas, mas criou-me destituído delas. Posso falar, todavia, da ignorância. A partir de certa altura da história da humanidade, a ignorância foi vista um dos piores males que afligiam a nossa pobre espécie. Esta é uma visão unilateral. Como em tudo, também na ignorância há um bem. Todos seriam mais felizes se ignorassem certas coisas. Viver inocentemente no desconhecimento de certos factos pode ajudar não só a uma vida melhor como mais longa. O excesso de informação inútil é um produto tóxico e, como se sabe, as toxinas não fazem bem ao frágil organismo que, devido a um terrível esquecimento de Epimeteu, nos calhou em sorte.
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