terça-feira, 7 de setembro de 2021

Transposições

Fui pôr o carro a lavar. O pobre coitado tinha poeira acumulada de várias eras geológicas. Tenho uma relação meramente instrumental com os carros e não lhes dedico mais que o cuidado estritamente necessário. Se na adolescência automóveis e o automobilismo me fascinavam, a realidade agora é bem outra. Seja como for, é preciso que aquela coisa tenha uma apresentação mínima. Enquanto ele era aspirado, mangueirado, ensaboado e colocado numa máquina de tortura, aproveitei para dar um salto a uma FNAC. A ficção científica é um tipo de literatura que, ao contrário, do romance policial, nunca me atraiu. Tendo visto ontem o filme Solaris, do realizador russo Andrei Tarkovsky, decidi comprar o romance que lhe deu origem, do polaco Stanislaw Lem. Consta que este é um génio literário. Tenho medo, porém, de achar que o livro não está à altura do filme. Apesar de romance e cinema serem ambos géneros ficcionais narrativos, não é fácil a transposição de um lado para o outro. Alguns casos, porém, o filme pode ser muito melhor que a obra romanesca que lhe deu origem. Além disso, eu tenho uma visão enviesada. Tarkovsky faz parte do meu top três de realizadores de cinema, para usar uma metáfora desportiva. Os outros são o japonês Akira Kurosawa e o sueco Ingmar Bergman. Como diria alguém que eu conheço, só gente chata. Não é, mas se forem, então estão adequados à minha natureza. Também eu sou um chato. O carro saiu muito lavado, mas, mal chegou à rua, desabou-lhe o céu em cima. Vou ler o romance do Lem. Quando acabar, talvez compre a adaptação cinematográfica feita, em 2002, por Steven Soderbergh, esse mesmo que realizou Sexo, Mentiras e Vídeo.

5 comentários:

  1. Dois dos seus realizadores chatos fazem parte do meu top five.
    ~CC~

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    1. Construir um top five é bem mais difícil, pois há muitos candidatos aos dois lugares vagos, a começar no John Ford e no Visconti.

      HV

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  2. Se tirasse a alfarroba do capot do jipe, haveria de a vender por 10 cêntimos à padaria portuguesa. E, de morangos, prefiro os silvestres e ainda mais os envenenados pela beleza de Tadzio. Zerkalo é o melhor da caixa. A arca russa belíssimo. Interiors, magnífico. Nada Pessoal.

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    1. Relativamente ao Visconti, não é Morte em Veneza o filme de que mais gosto. Prefiro o Leopardo, Ludwig, Violência e Paixão ou O Intruso. Enfim, gostos.

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    2. Sentimento, Violência e Paixão, O Leopardo, são os meus filmes, [ O Intruso ], que vi na juventude, (diria obrigatórios), para além de A morte em Veneza, uma pequena montanha, mas tão mágica.

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