quarta-feira, 4 de abril de 2018

Salvação


Ao fundo, os olhos param nas dunas de Salir. Depois rodam, rodam e encontram a entrada da baía. O mar, para além do pórtico, está exaltado, mas tudo na praia permanece tranquilo. Por vezes, vou a S. Martinho do Porto, nos dias em que suspeito haver por lá pouca gente, e deixo-me cercar pela lentidão com que as pessoas passeiam pela marginal. Olho as águas paradas, o balançar quase imperceptível dos barcos, e deixo que o sol caia sobre mim. Ali, enquanto caminho, posso quase conceber uma teoria da perfeição ou descobrir que toda a virtude reside na imobilidade. Um pai e uma mãe, com duas crianças e um cão, talvez alemães, passam por mim. O cão ladra, mas a família segue em silêncio, ele sorumbático e ela espinafrada, como diria a minha neta mais nova. E eu silencio-me dentro do silêncio deles. Espero um milagre qualquer, mas ele não chega. Nunca sei qual é o caminho da salvação.