Junho chegou e nem dei por Maio se ter ido. Foi sem uma
palavra, envolto em festividades, simulacros de um paraíso que se perdeu para
sempre. Os dias passam por mim, vão rápidos, presunçosos, cheios de eternidade.
Sinto a minha lentidão como uma sombra devorada pelo rancor do tempo. Nas ruas,
os transeuntes apressam-se, a festa aguarda-os no bulício da tarde. Esperam no
calor da multidão mitigar o frio que lhes habita a alma. Se alguém me
interpela, eu calo-me. Não por indelicadeza, mas por não ter nada para dizer.
Um pássaro canta na minha janela. Abro-a, o pássaro voa e o silêncio cai sobre
mim.