segunda-feira, 28 de junho de 2021

Moderações metafísicas

Acabei de ter, segundo a escala de Álvaro de Campos, um momento metafísico. Dizia ele – bem, não era o Álvaro de Campos que o dizia, pois nem sequer tinha dado entrada no clube dos nascidos, mas o Fernando Pessoa que o escrevia – Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates. Acabei de comer uns quadrados de chocolate, portanto penetrei nesse campo obscuro da metafísica. Dito isto, quero registar a minha discordância com o Álvaro de Campos ou com o Fernando Pessoa, ou com os dois. Para mim, nozes também são metafísica. Assim como batatas fritas, aquelas dos pacotes. É verdade que estas metafísicas não são idênticas. As nozes são uma espécie de metafísica da natureza, o chocolate, apesar das suas gradações, é claramente uma metafísica do espírito. Já as batatas fritas de pacote fazem parte da metafísica, embora eu não saiba de quê. Talvez sejam uma metafísica ao gosto popular. Todas estas metafísicas exercem sobre mim uma atracção, que não é fatal porque tenho uma certa tendência para a moderação, coisa fora de moda há muito. Fica sempre bem uma pessoa ser radical e eu fui-o há décadas, mas aquilo não calhava bem com o meu espírito e moderei-me. Nada em excesso, mesmo o chocolate, mesmo as nozes, mesmo as batatas fritas. Portanto, na metafísica sou um moderado. Uma tristeza.

2 comentários:

  1. Sou capaz de longos períodos de privação. Depois estrago tudo. Uma tristeza.

    Boa noite, HV.
    🍬🍫
    Maria

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    1. A privação exige a compensação, será uma espécie de lei do equilíbrio, se é que existe tal lei. Tenho um aliado na moderação. A partir de certa altura o corpo reage mal, e eu já não tenho idade para lhe aturar os humores.

      Um bom-dia, Maria

      HV

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