Chove com intensidade. Adolescentes à espera de entrar no Instituto de Línguas abrigam-se sob uma varanda. Um deles, porém, decide pôr-se debaixo de água. Coloca-se no meio da praceta e abre os braços, como se estivesse crucificado. As raparigas não reagem à performance, e ele fica ali desolado, abandonado à sua cruz imaginária, a água a cair-lhe em cima, até que se farta. De imediato, a chuva decide suspender o aguaceiro. Penso muitas vezes que a espécie teria um notável upgrade caso conseguisse suprimir os anos de adolescência. Muitos dissabores se poupariam aos pais e os próprios adolescentes não perderiam nada com a supressão. Acordar do período de latência hormonal e de jogos infantis e encontrar-se em plena idade da razão, ainda com sonhos e ilusões, mas sem o pesadelo de um corpo à procura de si mesmo. Na espécie humana nada é fácil. Estão exuberantes as cevadilhas da escola ao lado e as que orlam a margem de um ribeiro que atravessa a zona. Ninguém, ao olhá-las, diz que o perigo que escondem. A beleza nunca deixa de ser uma coisa perigosa, mais perigosa que a adolescência.
Sem comentários:
Enviar um comentário