Uma das ideias estruturantes do nosso modo de vida é a da superioridade económica do mercado. Este implica a concorrência dos produtores para satisfazerem as necessidades — reais ou imaginárias, as mais poderosas — dos consumidores. Essa concorrência implica diversificação: produtos concorrem pelas suas características específicas. Imagino que seja assim com os sites meteorológicos. Também eles disputam a atenção dos consumidores de informações climáticas. Antes de me vestir, consultei um desses oráculos. Não fui eu; pedi que o fizessem por mim. Em Lisboa, não chove. “Podes vestir isto e aquilo”, etc. Como consumidor sem espírito crítico, assim fiz. Esqueci-me da diversificação que o mercado, inclusive o meteorológico, impõe. Assim, à medida que me ia aproximando da capital, a minha fé na profecia foi-se desvanecendo. Chovia, quando cheguei ao destino. Fui consultar diversos oráculos. Havia previsões para todos os gostos: sol, chuva a rodos, chuva intermitente, tempo nublado mas sem queda de água. Só faltava a anunciação de queda de neve. Pensei: isto é o mercado a funcionar. E, se me vesti em contraciclo com o estado do tempo, a culpa é minha. O mercado dava-me várias possibilidades, embora apenas uma de acordo com a realidade. Se escolhi a previsão errada, o problema não é do mercado, mas meu — do consumidor que escolheu o augúrio errado. Com isto, acabo de dar um novo contributo para a compreensão do mundo da economia. Pensava-se, até a este momento seminal, que o cliente tem sempre razão. Falso. A razão do cliente e a própria realidade são coisas sem valor. O que interessa é a variedade da oferta, mesmo que seja falsa. Seria um grande aborrecimento se todos os sites meteorológicos anunciassem o mesmo estado do tempo, mesmo que esse estivesse de acordo com a realidade. Não apenas seria monótono, como haveria, na verdade, uma prática espúria de cartelização.
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