Os
dias continuam a encurtar. Os dias não encurtam, têm sempre 24 horas. Essa é
apenas uma razão para eles não se tornarem mais pequenos. Outra, talvez mais
séria, seja o simples facto de não existirem dias. Estes são uma convenção
engenhosa, baseada, por certo, em observações astronómicas aturadas, mas uma
convenção não é uma coisa, mas um arranjo de coisas. Não há dias para uma
rocha, uma couve, um protozoário ou uma girafa. Esses seres não têm convenções,
ou, se as têm, não as conhecemos. Ao contrário de todos os outros seres que
conhecemos, nós temos uma inclinação insuperável para gerar convenções. Na
Europa, por exemplo, geram-se, nos dias de hoje, mais convenções do que filhos.
A razão disso não é difícil de perceber. Filhos têm de ser educados, o que está
longe de ser uma tarefa fácil, e para a qual não há pai que esteja preparado
antes de chegar a avô. Quanto às convenções, por difíceis que sejam os partos,
não há necessidade de as educar. Se asa avaliamos como desagradáveis,
rasgamo-las e fazemos outras. Coisa que não se pode fazer com os filhos. A
convenção que tem o nome de dia parece ser do agrado geral, talvez
porque tenha utilidade. Por isso, não a rasgámos, ainda. O dia tem uma
ontologia convencional. O que não tem neste momento é luz, pois o crepúsculo já
quase soçobrou no seio firme da noite.
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