As castanhas, a água-pé e um Verão tardio que se esqueceu de marcar presença. É a pequena mitologia que cabe a um S. Martinho que, não muito longe daqui, tem uma feira com o seu nome, mas da qual, desconfio, se afastaria a passo rápido. É um mistério — ou talvez não — este costume de associarem nomes de santos a eventos profanos, nos quais não se vislumbra uma sombra da razão que um dia ligou aquele acontecimento a tal santo. Contrariamente ao Verão efectivo, o de S. Martinho dá-me prazer, e sinto a sua ausência como uma ofensa pessoal. Exagero. Deve-se a uma certa inclinação que há em mim para a hipérbole. Passando ao lado da inflação da ofensa, o que posso dizer é que uns dias de Sol, com Novembro já próximo do meio, funcionam como uma espécie de vitamina que ajuda o corpo a resistir aos dias sombrios que se aproximam. Tenho a tarde para ler Cesário Verde e os heterónimos de Pessoa. Um pedido de ajuda da neta mais velha. Tenho de imaginar como a posso ajudar, pois, entre o que para mim significa a poesia e aquilo que a escola determina que ela é, haverá um abismo intransponível. Talvez comece por lhe explicar que todo o poeta é um fingidor, mas nem todos fingem tão completamente, pois falta-lhes a dor — precisamente aquela que deveriam fingir, mas que não têm. Presumo que este não será o melhor caminho de ajuda.
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