Uma troca de comentários aqui no blogue levou-me à evocação de um tempo muito remoto, no qual eu ia, bem criança, aos domingos de manhã ao café com o meu pai. Ele lia os jornais, um de informação geral e outro desportivo, e eu entretinha-me com o Falcão ou o Mundo de Aventuras, umas vezes. Outras eram o Condor e o Ciclone. Tudo isso revistas de banda desenhada populares. Conhecidas por livros de cowboys. Na altura, a escola desaconselhava tal tipo de literatura, mas ninguém queria saber do desaconselhamento. Se não foi por aí que comecei a ler, foi talvez pelas aventuras do Pinóquio, nas edições Romano Torres, uma gloriosa editora popular que foi tragada há muito. Havia uma enorme estultícia nesse acto de desaconselhar essas leituras, a presunção de que as pessoas começavam pela literatura de qualidade, ainda que infantil. Foram as horas intérminas de Verões sem fim a ler essa má literatura que me conduziram a Kafka, a Mann, a Borges, a Sartre, a Camus, já nem sei bem a quem. Antes do prazer do texto, que vem bem depois, há o prazer de acompanhar o desenrolar da acção, de saber como acaba a história, de ver acontecer as peripécias que levam ao desenlace. Isso estava tudo nessa pequena literatura. Estava ainda uma outra coisa, a vitória do bem sobre o mal, o sentimento de que vale a pena bater-se pela boa causa. Não era pouco.
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