Outubro despede-se em glória, deixando atrás de si um halo de luz e um rasto daquele calor que torna a vida aprazível. Quando a tarde se aproxima do crepúsculo lembro-me dos momentos em que um grupo de velhos amigos se reunia à volta da mesa e deixava que o pão e o vinho abrissem o caminho a longos discursos, em que cada um corrigia a maldade do mundo e a perversidade dos corações, ou então falava da beleza ou da ocultação do sagrado. Ninguém, entre os convivas, cria nas suas próprias palavras, mas o momento era-lhes propício, e todos tinham jurado que, sendo adequada a altura, não haveriam de lhe faltar com a eloquência que fosse a sua. Bebíamos e falávamos, tudo nos parecia naqueles dias possível, embora soubéssemos que nos estávamos a mentir. Mentíamos para ocupar o tempo, pois a verdade é tão crua e tão seca que logo mata o discurso. Agora os meses limitam-se a passar. Por vezes, telefonamo-nos, perguntamos pelos filhos e pelos netos, se já os há. Há dias recebi uma chamada. Se queria ir jantar. Estaria presente a, e aqui omito o nome. Vão gostar de se ver. Eu não vejo aquela cujo nome não digo há mais de trinta anos e recuso o convite. Não suportaria destruir a beleza dela que ainda subsiste na minha memória pela frivolidade de um encontro. Há que saber hierarquizar as coisas, disse.
Outubro despediu-se em beleza, é verdade: tivemos um dia radioso, um belo ocaso e, para terminar em beleza, uma Blue Moon [aqui podemos cantarolar o tema :)] que, por acaso, deveria chamar-se Golden Moon... mas os americanos é que sabem, e se eles dizem que é azul...
ResponderEliminarPenso que fez bem, ninguém fica incólume com a passagem de mais de 30 anos; eu, pelo menos, não fiquei, quando olho para o espelho não reconheço quem está a olhar para mim :-(
Uma bela noite de luar, HV.
🌕
Maria
É verdade, se eles dizem que é azul, quem somos nós para os desdizer? Há pouco, bem já há umas horas, fui à rua e a lua estava belíssima.
EliminarUma boa noite, Maria
HV