No pequeno bosque da escola ao lado, as árvores petrificadas lembram estátuas esquecidas de uma civilização há muito abandonada. São símbolos a lembrar o passado, mas escondem a chave para os decifrar. O vento suspendeu a sua agitação e o sábado deixa-se invadir por uma luz tocada pela anemia. Olho o arvoredo e deixo-me devanear sobre a perfeição que existe em certos dias de Outono. Sou um ser outonal, não porque a idade assim o diz, mas porque sempre o fui. Por vezes, agrada-me a inocência de seres primaveris. Raramente a minha disposição é compatível com a exuberância dos estivais. Aos invernosos, olho-os com reverência, mas deixo-os pairar a uma distância conveniente. A vida é um exercício difícil de aproximações e distâncias, de procura de afinidades electivas, de gestão do espaço, no qual convém desenhar fronteiras que em caso algum devem ser atravessadas, mesmo se se tem passaporte. Dou uma vista de olhos pela imprensa, um velho hábito que não consigo erradicar, apesar de se ter tornado inútil. Deveria chamar-lhe um vício. O mundo continua a ser mundo e naquilo que leio poucas razões encontro para que não me torne num misantropo inflexível. Tivessem os homens a perfeição dos cedros, dos pinheiros, dos ciprestes que avisto e talvez a passagem da espécie pelo planeta não fosse um cortejo de indignidades. O vento voltou a soprar e levou com ele todos os meus pensamentos. Fico-lhe grato, pois melhor do que pensar é não pensar, ter a inocência de uma árvore presa ao seu silêncio.
...como não pensar? Não há inocência, nem silêncio.só mesmo as árvores têm esse privilégio
ResponderEliminarTalvez alguns seres humanos consigam tornar-se inocentes e mesmo suspender o pensamento. Aqueles a quem, talvez erradamente, se chama místicos, e de diversos credos, procuraram trilhar esse caminho. Talvez seja possível, mas não sei.
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