Um dia
útil, o primeiro da semana, em que chego ao fim da tarde com uma desmedida
sensação de inutilidade, apesar de ter estado ocupado o dia inteiro. Talvez
seja por causa disso, pensei. A grande aventura foi passar pelo hipermercado. Das
coisas que comprei, uma delas deixou-me desolado. Nozes. Sou um consumidor regular
deste fruto seco. Fui abastecer-me, mas parece que tinham seleccionado para
venda apenas uma versão mini, tão baixo é o calibre. Não havia outras, acabei
por comprá-las. Só falta saber – mais logo, saberei – se além de mínimas também
são secas. Comprei outras coisas, como kiwis, tomate cereja e rúcula. É
possível que devesse comprar outras, mas terei esquecido quais, talvez por falta
de atenção. Na Electra, do Inverno 2023/24, leio A chave para o
estrondoso sucesso das redes sociais reside na abertura do negócio aos clientes
finais. Os rendimentos são contabilizados em moeda de amigos, seguidores, gostos
e tudo o resto. O texto é de Georg Franck e faz parte de um artigo com o
título As várias faces da economia da atenção. Este sucesso é o sucesso
do vácuo. Pois o que, na verdade está em jogo, não é a atenção, a aprendizagem
de estar plenamente presente perante aquilo que se apresenta, mas o chamar a
atenção, o desenvolvimento de um narcisismo que se aproxima do solipsismo à
medida que crescem as amizades, os seguidores e se somam os likes.
Agora, a noite anuncia-se e vou entregar a minha atenção à contemplação do
crepúsculo.
Sem comentários:
Enviar um comentário