segunda-feira, 5 de fevereiro de 2024

Atenções

Um dia útil, o primeiro da semana, em que chego ao fim da tarde com uma desmedida sensação de inutilidade, apesar de ter estado ocupado o dia inteiro. Talvez seja por causa disso, pensei. A grande aventura foi passar pelo hipermercado. Das coisas que comprei, uma delas deixou-me desolado. Nozes. Sou um consumidor regular deste fruto seco. Fui abastecer-me, mas parece que tinham seleccionado para venda apenas uma versão mini, tão baixo é o calibre. Não havia outras, acabei por comprá-las. Só falta saber – mais logo, saberei – se além de mínimas também são secas. Comprei outras coisas, como kiwis, tomate cereja e rúcula. É possível que devesse comprar outras, mas terei esquecido quais, talvez por falta de atenção. Na Electra, do Inverno 2023/24, leio A chave para o estrondoso sucesso das redes sociais reside na abertura do negócio aos clientes finais. Os rendimentos são contabilizados em moeda de amigos, seguidores, gostos e tudo o resto. O texto é de Georg Franck e faz parte de um artigo com o título As várias faces da economia da atenção. Este sucesso é o sucesso do vácuo. Pois o que, na verdade está em jogo, não é a atenção, a aprendizagem de estar plenamente presente perante aquilo que se apresenta, mas o chamar a atenção, o desenvolvimento de um narcisismo que se aproxima do solipsismo à medida que crescem as amizades, os seguidores e se somam os likes. Agora, a noite anuncia-se e vou entregar a minha atenção à contemplação do crepúsculo.

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