Estes
dias têm sido mais ocupados do que deviam. Por vezes, a necessidade acumula as
suas forças num determinado ponto do meu caminho e, quando menos espero, caio
na emboscada e não tenho outro remédio senão submeter-me a ela. Isto não é
verdade, mas fica sempre bem uma diatribe, ainda que pequena, contra a terrível
necessidade. Submetido a ela, não tenho tido tempo para dar atenção à Electra
que me chegou há dias. Há uma entrevista com uma escritora, professora e
crítica norte-americana, Svetlana Alpers. Para título da entrevista foi
escolhida uma frase da entrevistada Suspeito das palavras e das imagens.
Como só mais logo irei ler a entrevista, não sei as razões da sua suspeita.
Será que ela não suspeita dos sons não linguísticos? E os sabores e odores
serão confiáveis ou também eles são suspeitos? As impressões tácteis, em que
categoria cabem? Talvez ela responda, talvez não. Desconfio mais das imagens do
que das palavras. As imagens possuem uma intenção secreta, a de nos seduzir ou
de nos repugnar. Elas jogam com a sua aparência para nos cativar, no sentido
estrito de ficarmos cativos da aparência. As palavras para o fazer têm de
formar coligações, estabelecer pactos, fazer acordos, celebrar convenções. Portanto,
ao contrário da imagem, em que cada uma se basta a si para nos raptar da terra
do bom senso, as palavras necessitam de um trabalho aturado, o que nos dá algum
tempo para erguer o escudo contra o feitiço. Agora, volto para a terra do bem
senso para dar atenção à necessidade que por mim chama.
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