sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024

Palavras e imagens

Estes dias têm sido mais ocupados do que deviam. Por vezes, a necessidade acumula as suas forças num determinado ponto do meu caminho e, quando menos espero, caio na emboscada e não tenho outro remédio senão submeter-me a ela. Isto não é verdade, mas fica sempre bem uma diatribe, ainda que pequena, contra a terrível necessidade. Submetido a ela, não tenho tido tempo para dar atenção à Electra que me chegou há dias. Há uma entrevista com uma escritora, professora e crítica norte-americana, Svetlana Alpers. Para título da entrevista foi escolhida uma frase da entrevistada Suspeito das palavras e das imagens. Como só mais logo irei ler a entrevista, não sei as razões da sua suspeita. Será que ela não suspeita dos sons não linguísticos? E os sabores e odores serão confiáveis ou também eles são suspeitos? As impressões tácteis, em que categoria cabem? Talvez ela responda, talvez não. Desconfio mais das imagens do que das palavras. As imagens possuem uma intenção secreta, a de nos seduzir ou de nos repugnar. Elas jogam com a sua aparência para nos cativar, no sentido estrito de ficarmos cativos da aparência. As palavras para o fazer têm de formar coligações, estabelecer pactos, fazer acordos, celebrar convenções. Portanto, ao contrário da imagem, em que cada uma se basta a si para nos raptar da terra do bom senso, as palavras necessitam de um trabalho aturado, o que nos dá algum tempo para erguer o escudo contra o feitiço. Agora, volto para a terra do bem senso para dar atenção à necessidade que por mim chama.

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