Não fora este ano ser bissexto e, no fim do dia, teríamos completado o primeiro quarto do mês. Assim teremos de esperar seis horas para comemorar a efeméride. Nos anos não bissextos, o mês de Fevereiro é o mais perfeito dos meses. Contém precisamente quatro semanas. Os outros meses alargam-se para lá do limite razoável. Uns dois dias, outros três. Nem sempre Fevereiro se contém, mas isso só acontece de quatro em quatro anos. O desejo de expansão vai crescendo, crescendo, até que se transforma num dia a mais. Esta minha explicação de Fevereiro, nos anos bissextos, conter mais um dia parece-me muito mais interessante – e por isso mais verdadeira – do que a explicação rotineira baseada na necessidade de manter o calendário anual coerente com a translação da Terra. Em vez da coerência o desejo, e onde entra o desejo tudo se torna mais palpitante. E as pessoas gostam daquilo que as faz palpitar. Tenho estado a ver um documentário sobre o escritor de ficção científica Isaac Azimov. A personagem parece-me interessante, mas nunca fui um leitor desse tipo de literatura. A razão talvez resida na minha falta de imaginação, no facto de não conseguir transportar-me para mundos fora da Terra ou mesmo dentro da Terra que, cada vez que tentei ler e ainda li algumas obras, sempre me pareceram terrenos, demasiado terrenos, embora enxertados de umas estranhezas que teriam a função de mostrar que se estava num outro mundo. Talvez esteja a ser injusto, mas o gosto não é uma questão moral e, por isso, não gostar de ficção científica não justo nem injusto. Vou meditar nas minhas razões para não gostar de ficção científica ou nos mistérios do calendário. Talvez tenha uma iluminação.
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