Tudo seria mais fácil, a começar pela vida e aquilo que se faz com ela e dentro dela, caso Richard Dawkins tivesse razão. Para ele, nós, seres humanos, somos máquinas de sobrevivência, veículos robot cegamente programados para preservar as moléculas egoístas conhecidas como genes. Tudo o que eu sou e tudo o que fiz e possa vir a fazer resulta de uma programação prévia, da natureza, suponho, para que os genes persistam na existência, mesmo quando eu já não existir. Ora, vejamos um contra-exemplo ou uma objecção, como queiram. O daquelas pessoas que tomam a decisão de não se reproduzirem e, em consequência, não permitirem que os seus genes persistam além delas. Dir-se-ia, então, que essas pessoas estavam cegamente programadas para que os seus genes egoístas não se reproduzissem. Há aqui uma inconsistência do programador, pois umas vezes programa para a persistência dos genes egoístas e outras para a sua não persistência. Isto torna a questão interessante. Nós seres humanos temos a convicção de que fazemos escolhas genuínas, que não está programado ter ou não filhos, vestir uma camisa branca em vez de uma azul. Isso, porém, seria uma ilusão. Contudo, e esta é uma segunda objecção, é mais inverosímil atribuir liberdade de escolha a uma obscura instância programadora do que a nós, seres humanos. Isto para nossa infelicidade, pois se fôssemos o puro resultado de uma programação exterior a nós, estaríamos mais descansados quanto à nossa responsabilidade por aquilo que fazemos. Por exemplo, eu não seria responsável pelo conjunto de coisas idiotas que escrevo nestes textos. Fui programado por um autor que, por sua vez, foi programado pela instância programadora preocupada com a preservação dos genes dele. A idiotice não seria minha, narrador, nem do autor, mas do programador genético, digamos assim. Contudo, o que não se consegue perceber é a relação destes textos com a salvação dos genes do seu autor. Se olharmos para os seres humanos, eu sei que nem sempre o espectáculo é edificante, observamos que uma parte substancial das suas actividades em nada contribuem, directa ou indirectamente, para a persistência dos seus genes egoístas. E este é a terceira objecção à teoria do senhor Richard Dawkins. Em resumo, perante a angústia da página em branco, mal de que nunca padeci, tomei livremente a decisão de escrever estas patetices. Também é verdade que em vez de criar objecções à teoria do senhor Dawkins, poderia ter escrito a favor dela, caso o tivesse desejado, o que prova que ele não terá razão, apesar de nestes assuntos nunca se poder provar coisa alguma. Aguardo, não sem esperança, a hora de almoço.
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