sábado, 8 de janeiro de 2022

Susceptibilidades

O dia começou mal. Não bastava ter-me levantado tarde, coisa que está fora dos meus hábitos há muito, tive um desagradável encontro com a balança. A coisa – para não usar uma qualificação mais desagradável – teima em continuar a afrontar-me devolvendo-me pesos insultuosos sempre que a piso. Talvez ela fique ofendida por ser pisada. Quem gosta, nesta vida, de ser pisado? Os dispositivos – e não apenas as balanças – são seres muito susceptíveis. Ontem, por exemplo, o GPS do telemóvel ficou muito irritado e decidiu gozar com os pobres passageiros do carro. Depois de passar uns dias em Coimbra com as minhas netas, no retorno decidimos levá-las a Conimbriga. Era o fim do passeio cultural. Ligada a aplicação, a senhora que fala dentro do aparelho lá foi dando indicações. O problema é que falhei uma curva à esquerda e ela em vez de me mandar voltar para trás, continuou a dar indicações, metendo-nos a todos por aldeias inverosímeis e, não contente com isso, por estreitos caminhos do campo, terra batida, buracos cheios de água, instigando-nos sempre para a frente, ou para a direita, ou para a esquerda. A certa altura comecei a desconfiar que estava a ser literalmente gozado, fiz inversão de marcha e mandei calar a senhora. Na primeira aldeia, perguntei o caminho, como se fazia antigamente, e lá cheguei às ruínas. Não tenho certeza se as netas gostaram mais das ruínas ou da aventura de andarem perdidas pelos campos, sem saber se chegariam a algum lado. Como se vê, e esta era a minha tese, os dispositivos são seres muito sensíveis, impiedosos e vingativos. Agora, estou a ouvir Fado de Coimbra, pois ao descer da Universidade para a baixa da cidade, encontrei uma casa dedicado à canção coimbrã e decidi comprar dois CD. Tenho de os ouvir pelo menos uma vez.

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