Estamos todos mais descansados. Afinal, sempre existe o ano de 2022. Chegou por aqui entre fogo-de-artifício, pessoas a brindar e outras submetidas àquela terrível provação das doze passas e não sei quantos desejos. Estava para passar as passas, mas como eram bastante boas, acabei por cumprir o ritual enquanto fazia videochamadas para a família. Na azáfama, esqueci-me dos desejos. Quando meditei nessa falta, concluí que fora o melhor. O mais sensato é não desejar nada. Até, porque, passados uns minutos uma pessoa esquece-se daquilo que desejou e não tem hipóteses de verificar experimentalmente se a conexão entre passas e desejos formulados funciona. Apesar de me ter deitado a hora muito razoável, levantei-me tarde, coisa a que não estou habituado e torna o dia um pouco zanaga. Não imagino por que razão esta palavra me surgiu. Os dias não têm olhos, logo não podem ser zanagas. Talvez nos olhem de lado. É uma hipótese, mas de confirmação tão difícil de testar quanta a da causalidade entre passas e realização de desejos. Estou preocupado comigo. O que me terá dado para fazer estas referências, já são duas, ao método científico. As notícias são animadoras. Uma equipa de cientistas portugueses – mais uma vez a ciência – desenvolveu um nariz electrónico que consegue detectar odores apesar da humidade. Parece que esta é inimiga da captação de aromas. Por falar em aromas, recordei-me que a palavra é usada para designar certos produtos químicos adicionados industrialmente a alimentos para lhes dar determinados sabores. Como se vê, até a indústria mais soturna tem um lado poético. Seja como for, estamos em 2022, na noite do seu primeiro dia. Nem sempre é fácil constatar a realidade.
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