domingo, 30 de julho de 2023

Ter

Um domingo de Verão é sempre uma tarefa difícil. Depois de almoço, tomado pela preguiça, adormeci. Se sonhei, não dei por isso, como é habitual, mas talvez o meu psiquismo seja dotado de um princípio de realidade que se impede a si próprio qualquer devaneio. Outra possibilidade é que a instância censuradora seja de tal modo poderosa que elimina o vestígio das coisas que fantasio ao dormir. Não tarda, terei de fazer uma viagem de uma centena de quilómetros. Ainda não conduzo, vou sentado ao lado, contemplando a estrada e os campos que a estrada atravessa. Não são verdes. Ressequidos, terão cor de palha. Tenho de me preparar e tenho pouco a dizer. É estranho o verbo ter, mas não tenho paciência para pensar sobre a sua estranheza, a sua inquietante estranheza.

2 comentários:

  1. Há uma peça de Schubert, a segunda de D 946; uma espécie de receita. Melhor se o médico for Sokolov.

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