Vasculho com atenção os dois livros que recebi. Datam de 1937 e formam um romance histórico de um autor português que já ninguém sabe quem é. O nome dele não vem ao caso. O que procuro são sinais de antigos proprietários da obra. Umas notas numa página, uma carta esquecida, um postal recebido e deixado entre as folhas, umas contas para pagar, sei lá o que mais poderia ser. Nada, nem uma simples dedicatória, uma assinatura com data de aquisição. Este deambular metafísico pelo estranho país de um passado que me é desconhecido não me deu assunto. Hélas! No romance, a certa altura, o autor informa: Francisco de Padilha saiu como um louco. O mal dos autores é presumir que os leitores sabem certas coisas. Como sairá um louco? Ponho-me a imaginar, mas não consigo chegar a um acordo comigo mesmo, tantas são as possibilidades de um louco sair do lugar onde se encontra. Seja como for, não posso deixar de sublinhar as razões que poderiam enlouquecer a personagem. Ser rejeitado por uma mulher seria, naqueles dias, uma desgraça. Parece-me, todavia, que é excessivo estabelecer um nexo causal entre uma rejeição e enlouquecer, ainda que seja apenas como metáfora. Paro as considerações por aqui, antes que entre por caminhos ínvios e escreva frases carregadas de aleivosias, o que poderia dar ensejo a alguém para instruir um processo de cancelamento deste narrador sem narrativa.
Sem comentários:
Enviar um comentário