Em 2018, o filósofo sul-coreano Byung-Chul Han publica um livro com o título Louvor da Terra – Uma Viagem ao Jardim. Na origem da obra estariam razões que se podem resumir no seguinte: Um dia senti uma profunda nostalgia e, além da nostalgia, uma necessidade premente de proximidade da terra. Por isso tomei a decisão de praticar diariamente jardinagem. Apesar da nostalgia e da necessidade que terão assaltado o filósofo, a ideia de cultivar o seu jardim não é uma novidade no mundo da filosofia. Também Voltaire, no Candide, se refere a essa necessidade. Contudo, ela não é impulsionada por uma nostalgia da terra, mas pela necessidade de protecção dos males provenientes do mundo da acção política. Uma outra diferença entre ambos os filósofos é que o jardim do francês é uma horta, o sítio onde se produzem vegetais, o do coreano contém plantas ornamentais. Não se pense, todavia, que não há uma linha que una as duas intencionalidades. Cultivar um jardim é trazer um princípio de ordem ao caos do mundo, essa ordem que, miticamente, existia no Éden e para a qual os homens não foram suficientemente sensíveis. Talvez cada ser humano traga, no fundo de si mesmo, a imagem de um jardim que deveria cultivar.
Vou comprar esse livro. De Byung-Chul Han só tenho A Sociedade do Cansaço. Uma vez ele disse mais ou menos isto: o jardim ensina-nos a saber esperar. E depois deu exemplos, indicando vários arbustos maravilhosos do seu jardim, que tinham levado vários anos a florir. Já um curador do jardim de Monet, em Giverny, disse que era bom que o jardim florisse todo ao mesmo tempo. Cândido talvez se referisse a um jardim interior. Ou talvez todos os jardins sejam, afinal, jardins interiores.
ResponderEliminarÉ plausível que qualquer jardim exterior seja uma projecção de um jardim interior. Em certos casos, de vários jardins interiores. Nisso, contudo, os jardins não serão diferentes de todas as outras coisas coisas que a mão humana dispõe por esse mundo fora.
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