Depois de almoço, tendo-me sentado em frente ao computador para levar a cabo algumas tarefas, o corpo foi bem mais sensato e decretou que deveria cabecear e dormir, num equilíbrio instável. É uma decisão arriscada, a do corpo, pois pode ter como consequência ganhar uma desagradável dor no pescoço, o que não veio a acontecer. Agora, desperto e com energia renovada, tomo a feliz decisão de procrastinar e deixar para amanhã o que posso fazer hoje. Num dos meus livros de leitura da escola primária, talvez da terceira classe, havia um texto em que um camponês foi pedir um conselho a um advogado famoso. Este respondeu: não deixes para amanhã, o que podes fazer hoje. Durante décadas pensei que o conselho era uma criação do autor do texto ou a referência a alguma máxima da sabedoria popular. Mais tarde, bem mais tarde, vi que era atribuída a um tal Ralph Maxwell Lewis. É assim que a internet destrói o encantamento do mundo. Consta que o tal Lewis foi um importante Rosa-Cruz, nascido em 1904, embora não imagine o que seja um Rosa-Cruz. Uma coisa é certa, o senhor era um inimigo dos procrastinadores, pois não contente com o não deixes para amanhã, o que podes fazer hoje, ainda lhe acrescentou o não deixes para a tarde, o que podes fazer pela manhã. Talvez um Rosa-Cruz seja, por natureza e destino, workaholic, sempre a correr para cumprir tarefas, evitando adiamentos e ultrapassagens de prazos e essas coisas que um europeu do Sul reconhece como a essência da sua cultura. Portanto, insisto na procrastinação. Amanhã, logo se verá.
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