O Verão tem sobre mim um efeito nefasto. Já constatei isto milhares de vezes, e já o anunciei aos ventos quase outras tantas. Cheguei à idade em que uma pessoa está condenada a repetir-se. Este pendor para a iteração nada tem de misterioso. É uma forma de luta contra o esquecimento. É verdade que essa propensão tem um poder especial de irritar os outros, os que não podem fugir dos nossos discursos, mas a memória lá se vai aguentando à tona de água. Há também uma outra possibilidade. Remeter-se ao silêncio. Esse silêncio cria um espaço onde a pessoa rememora continuamente aquilo que lhe dá prazer. Se, um acaso, traz uma memória desagradável, basta um encolher de ombros ou um franzir de sobrancelhas, e ela vai-se embora, para que aquilo que é radioso ocupe o palco. E é isso que vou fazer a seguir, remeter-me ao silêncio e contemplar as paisagens luminosas que a memória me traz.
Sr Peregrinatio
ResponderEliminarOs seus últimos posts são muitíssimo bons, e acho que as férias ao fresco, apesar de não acreditar nisso, lhe deram um novo alento. Quem sabe se O Mar, O Mar, não lhe fará mesmo bem. Por estes lados a secura é total. Do meu passeio com os cães trago todos os dias uma pedra, levantada no caminho pelos javalis, para a bordadura dos meus canteiros. Tenho pena deles, sabe, suponho que morrem de sede. O que fizemos nós da água?
Muito obrigado. Claro que o Mar, mas não tanto a praia, me faz muita falta. O que fizemos nós à água? Talvez a pergunta deva ser mais radical: o que fizemos nós à Terra?
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