Passam das cinco da tarde. O sol ainda brilha com algum vigor. Notei, nos últimos tempos, que houve uma transformação nos dias da semana. Anteriormente, só os do fim-de-semana tinham encolhido, enquanto os da semana se dilatavam de tal maneira que era um cansaço atravessá-los. Agora, entraram em dieta e também eles minguam. Passam tão rapidamente, que temo o dia em que os próprios dias desapareçam. É da natureza humana nunca estar contente com nada. Se os dias da semana se dilatam, protesta-se. Se se amesquinham, protesta-se. Na avenida, um casal cansado atravessa lentamente o seu acasalamento. Já não protestam. Escondem a cara na respectiva máscara e marcham lado a lado como se estivessem apostados em seguir duas rectas paralelas. Nem dão pelo bando de adolescentes que por eles passam, com a efervescência do corpo e saltar-lhes da boca. Um cão, livre da trela do dono, pára e fica a olhar as cavalhadas, depois corre para o relvado, onde encontra a árvore certa para erguer a perna. Pais apressados vão buscar os filhos à escola primária, metem-nos rapidamente no carro e desaparecem. As tílias tiritam de frio, enquanto os dois jacarandás que avisto continuam envoltos num sobretudo verde outonal. Talvez este ano chova pouco, pensei. Há-de fazer falta a água. Não são poucas as coisas a precisarem de lavagem.
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