terça-feira, 20 de junho de 2023

Efemérides

Hoje cumprem-se dois terços do mês de Junho. Escrever estes textos fez-me descobrir que sou dado às efemérides, mas talvez não o suficiente. Um verdadeiro amante de efemérides não pode ficar pelos números redondos ou aqueles que assinalam o fim ou início de alguma coisa. Por exemplo, assinalar o décimo sétimo dia de um mês e sexto de outro, não porque haja qualquer motivo subjacente, mas pelo valor intrínseco de serem o décimo sétimo e o sexto. Objectar-se-á, não sem alguma razão, que efemérides são acontecimentos memoráveis, importantes. A objecção, todavia, esquece que na raiz de efeméride está efémero, o que dura só um dia, no dizer dos gregos antigos. Ao assinalar-se o décimo sétimo dia ou o sexto de um mês celebra-se aquilo que passa, que dura apenas um dia. Comemora-se a banalidade e cultiva-se o trivial. É disso que me aproximo velozmente, mas ainda fico preso aos números redondos, ao preconceito da tradição. Luto, porém, para me emancipar desse passado tenebroso que nos prende aos dias memoráveis e aos números redondos. Estive quase três horas a perorar e agora sinto a garganta cansada e um vazio no lugar onde, supostamente, deveria haver um cérebro. Nem sei o que me terá dado para falar tanto, eu que tenho uma propensão para estar calado. Quando escrevi, acima, três horas cometi um erro. Escrevi três oras. Corrigi, mas fique maravilhado com a expressão. É como se dissesse três poréns, caso o ora fosse conjunção. Caso fosse um advérbio, talvez fossem três agoras, o que abre as portas para a admissão da existência de pelo menos três universos, cada qual como seu agora, todos à mesma hora. Ora… ora. Junho chegou ao vigésimo dia e é tudo o que tenho para dizer.

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