Agora deixou de dar conta das nossas conversas no seu blogue? Foi com esta interrogação, talvez com um toque de imperativo, que o padre Lodo começou a conversa, hoje de manhã. Não respondi e perguntei-lhe a razão de ter trocado a habitual manhã de domingo pela de sábado para me ligar. Não se faça desentendido, respondeu-me. Sabe bem que sou um Settembrini e que acumulo o treino de jesuíta com uma costela ancestral de iluminista. Eu sei, eu sei, mas não tenho qualquer razão para o facto. Os meus textos, acrescentei, são regidos por um radical princípio de incerteza, que vai bem mais longe do que o de Heisenberg. Acontecem ao acaso, tudo é incerto até estarem online, e mesmo depois ainda pode acontecer que se alterem. Não partilho da ideia de Einstein de que Deus não joga aos dados. Não tem calhado dar conta por aqui dessas nossas conversas. Boa desculpa, respondeu. O facto de não conhecer as causas dessa decisão de me censurar não quer dizer que elas não existam. Agora, deu em determinista, adepto de Espinosa, perguntei. E antes que me respondesse, fiz nova questão: será que se está a tornar um herege, um negador do livre-arbítrio? Olhe que os doutores da Igreja bem pugnaram em sua defesa. Já não tenho idade para heresias, ouvi vindo do outro lado do telemóvel. Sabe, disse de súbito, estou de férias naquele sítio que bem conhece. Não está por cá? Não, respondi e acrescentei: nem vou estar nos próximos tempos. Não faz mal, temos tempo, vou estar por aqui mais tempo do que é habitual. A Companhia acha que devo descansar, meditar, fazer oração e olhar o mar com calma. E fazer uns belos almoços e jantares, acrescentei eu. Isso, retrucou, é para me manter humilde, para não me esquecer que não passo de um miserável pecador, inclinado à gula.
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