quinta-feira, 31 de março de 2022

Eros, esse deus itinerante

A compra de livros usados não é interessante apenas por se poder adquirir autores que deixaram de ser publicados. Um outro atractivo é descobrir aquilo que os seus compradores originais lá deixaram escrito. Diante de mim, dois romances da mesma autora. Num deles, está grafado: Para ti minha jóia preta, com a dedicação do teu (segue-se assinatura legível). Isto passou-se no mês de Maio do ano de 1954. No outro, diz-se mais prosaicamente: Com um grande abraço da tua mulher que te ama (segue-se rúbrica ilegível). A data é de Dezembro de 1972. Imagino, assim, que os anos cinquenta do século passado seriam mais inclinados às declarações românticas, fundadas na metaforização, do que os anos setenta, mais dados à linguagem corrente. É uma hipótese, embora possam existir outras. A relação entre o autor da assinatura e a sua jóia preta estaria ainda num tempo em que tudo parece digno de valor, em que até os defeitos e vícios da coisa amada são vistos como verdadeiras virtudes, únicas ao cimo da terra. Por outro lado, o casamento, como toda a gente sabe, tem um poder extraordinário para transformar as alianças de ouro, que selaram o amor eterno, em pechisbeque do mais trivial que exista. Já não há motivação para mais do que um grande abraço, isto é, a declaração de amizade, de onde Eros, esse deus itinerante, foi expulso. Não deixa de ser curioso o lugar onde se encontra a dedicatória, mesmo ao lado do título, que em letras garrafais diz: Desejar Não é Amar. A autora da dedicatória confessa que ama o marido, mas não o deseja. Isto acontece a muito boa gente, que vive em dissociação cognitiva. Quanto à autora do romance, Carmen Figueiredo, hoje praticamente desconhecida, recebeu os elogios da crítica do seu tempo, algumas das suas obras foram apreendidas pela PIDE, sempre zeladora dos bons costumes e da moral pátria, e recebeu o Prémio Ricardo Malheiros, pelo romance Criminosa. Continuo a comprar coisas inverosímeis. Como por exemplo, a novela naturista (assim mesmo), publicada em 1916, com o título Regresso à Felicidade, de Sousa Costa, um autor tradicionalista e ruralista, casado com Emília Sousa Costa, também ela escritora, dedicada à literatura infantil e à ficção regionalista. Assim se chega ao fim de Março.

quarta-feira, 30 de março de 2022

Enganos do tempo

“Estamos em face de uma organização de romancista como poucos temos em Portugal”. “Caminhada é, sem dúvida, um dos melhores romances do nosso tempo”. “Leão Penedo tem o seu lugar entre os melhores romancistas portugueses”. “Um dos maiores romances de autores da nova geração”. Encontramos tudo isto e muito mais na contracapa do romance A Raiz e o Vento, do escritor algarvio Leão Penedo. Não se pense que este tipo de comentários surge na imprensa de província. Pelo contrário, as citações pertencem a jornais e revistas de âmbito nacional. Não me foi possível saber a data de publicação do romance, mas presumo, com alguns dados a que tive acesso, que terá sido nos anos quarenta do século passado. A questão que se coloca não é se alguém ainda lê um romance do autor, mas se alguém sabe que terá existido um escritor chamado Leão Penedo. Ao ler a contracapa – de natureza publicitária, mas, como ainda hoje acontece, mobilizando aquilo que foi dito por autoridades com algum reconhecimento no mundo da literatura – pensamos estar perante um autor decisivo no panorama da literatura nacional. A história não o mostra assim. Não faço ideia se as avaliações referidas são justas, pois ainda não li o livro que me chegou hoje às mãos, mas talvez se deva considerar que os críticos literários daqueles tempos estavam longe de possuir instrumentos analíticos actualizados para avaliar as obras que liam. Faltava-lhes, por certo, um saber universitário adequado e sobrava-lhes a veia jornalística. Perguntar-se-á por que razão escrevi tudo isto. A resposta é simples. Para não falar do tempo, do vento frio, de Março a deslizar para a caverna de Abril. Águas mil.

terça-feira, 29 de março de 2022

Mudanças

O mundo mudou, comentou ontem um amigo cujo nome não vem ao caso. O problema do mundo, respondi, é mesmo esse. Estar sempre a mudar, tomado por uma volubilidade doentia. Não se trata disso, mas de uma mudança benéfica, uma luta contra o castigo imposto pela tentativa de construir a Torre de Babel. Os tradutores automáticos, continuou, são uma bênção. Pode-se ler com razoável fiabilidade coisas escritas em algumas línguas que não se conhecem. Tive de concordar. Habituei-me a usar esse truque com textos escritos em alemão ou nas línguas nórdicas. As traduções automáticas colocam-nos num francês ou num inglês bastante aceitáveis. É possível mesmo ler com razoável precisão prosa de ficção, isto para não falar da técnico-científica.  O mundo, de facto, mudou. No entanto, isto não significa que estejamos mais próximos uns dos outros. Esta aproximação linguística talvez nos esteja a afastar ainda mais. A nossa esperança já não está em aprender uma língua, mas em haver um tradutor automático que coloque na nossa, ou numa que compreendamos, aquilo que queremos ler e está escrito em língua inacessível. Por outro lado, há uma desumanização da linguagem. É possível imaginar que, não tarda, as traduções automáticas serão muito mais exactas do que as de um bom tradutor, que conseguirão mesmo captar as inflexões literárias, as derivas estilísticas individuais, tudo aquilo que torna um texto único. A inteligência artificial aprende muito depressa. Isto piora a situação da humanidade ao cimo deste planeta. Enquanto esta se entretém em guerras e outras actividades do mesmo calibre moral, os seres de silício encarregam-se de tornar manifesto que a nossa espécie está obsoleta. Obsoleta e uma péssima companhia neste mundo, o tal que mudou.

segunda-feira, 28 de março de 2022

Dia de aluamento

Enquanto muitos outros povos cultivam o dia após o domingo como um tempo de aluamento, os portugueses referem-no como o segundo dia de férias. Veja-se, por exemplo, Lunes, Lundi, Luni, Luns, Lunedi ou Monday, Montag, Maandag, Mandag, etc. Em todas estas designações encontramos a Lua como fonte de inspiração. Conseguimos a proeza de resistir aos encantos da Lua, de ficarmos aluados, mas a verdade é que atribuímos, a cada dia útil da semana, a designação de um dia de férias, enquanto para os tradicionais dias de descanso adoptamos uma estratégia diferente, que agora não vem ao caso. De tudo isto podemos extrair a conclusão de que os portugueses não vivem na Lua, mas o seu ambiente natural são as férias. Mesmo quanto a malevolente realidade os obriga a trabalhar, eles fazem-no em plenas férias. Não vou daqui retirar qualquer justificação para a baixa produtividade nacional, nem fazer considerações da resistência lusitana à ideologia do capitalismo e ao seu acordo tácito com Paul Lafargue, esse genro suicida de Karl Marx, que ficou para a história com a obra imortal, não poupemos nos adjectivos, O Direito à Preguiça. Um escrito pouco alinhado com o sogro. Sublinho apenas que as línguas reflectem, de forma secreta, o inconsciente colectivo dos povos, dizem, com as suas palavras, aquilo que lhes vai na profundeza das almas. Uns sonham com a Lua outros com umas férias eternas apenas interrompidas pelo descanso de sábado e pelas festas dominicais. Eu, esclareça-se, não sou de andar na Lua. Sou português e isso explica tudo.

domingo, 27 de março de 2022

Deixem as horas em paz

Chegámos ao último domingo de Março. O mês galopou pela planície do ano e prepara-se para acabar. A vida dos homens é assim, um galope desenfreado entre dois abismos. Como todos os abismos, estes são secretos e nunca se sabe o que está neles. De um sai-se puro, inocente e ingénuo. No outro cai-se, embora as virtudes com que se tinha nascido tenham sido exauridas no trajecto, e vai-se para o abismo final com pouca pureza, inocência e ingenuidade. As mudanças horárias perturbam-me sempre. Já era tempo de acabarem com esta arbitrariedade, com este tira hora, põe hora. Se eu fosse dado à iniciativa, um empreendedor, na linguagem de hoje, haveria de criar um movimento, talvez uma organização não governamental, para exigir que deixem as horas em paz. O que me vale é que não sou dado a iniciativas e, apesar de resmungar com a desfaçatez da gestão política das horas, acomodo-me, resigno-me a este domingo triste e de hora roubada. O dia está macambúzio. Eis uma palavra que não tenho o hábito de usar. Poderia ter escrito soturno, triste, taciturno. Poderia mesmo escrever que o dia está sorumbático, mas não. Escrevi macambúzio. Não faço ideia a onde se terá ido buscar tal palavra. Seja como for, é assim que o dia está. E eu, se não me acautelo, fico como ele. Tudo isto porque me roubaram uma hora ao domingo, que eventualmente será devolvida lá mais para a frente, mas ninguém paga juros de mora. A Quaresma avança e, não tarda, chega ao porto sereno da Páscoa.

sábado, 26 de março de 2022

Sombras

Perante a desmedida fúria de Ajax, enraivecido pela facto de os chefes aqueus terem dado a Ulisses a armadura e as armas de Aquiles, tenta matar os comandantes do exército grego e torturar Ulisses. Intervém, porém, a sábia deusa Palas Atena, criando no agastado herói uma ilusão que o leva a confundir um rebanho de ovelhas com seres humanos. Ajax entrega-se a uma carnificina inominável. Pensa ter assassinado Agamémnon e Menelau e ter em seu poder o astuto Ulisses. Este, perante o espectáculo da fúria fantasiosa do seu rival, diz, não sem piedade: vejo que, nesta vida, não passamos de fantasmas ou de sombras vãs. Certamente, a intelectualidade grega daqueles tempos estaria muito perturbada com o nosso estatuto, com a terrível pergunta: quem somos nós? Platão, tempos depois, conta-nos uma história que a posteridade conhece com a Alegoria da Caverna, na qual os homens não passam de prisioneiros que apenas vêem sombras. Talvez esta preocupação com as sombras derive toda ela de um verso de Píndaro de uma Ode Pítica: O homem é o sonho de uma sombra. Nesta viagem pelo mundo das sombras, há um lento deslizar para a carnalidade. Em Píndaro o homem é apenas o sonho de uma sombra. Nem sombra chega a ser. Em Sófocles, no julgamento piedoso de Ulisses, o homem é já uma sombra, embora vã. Em Platão, o homem não é filho de sombra, nem sombra, é um ser de carne que vê sombras e para o qual há a esperança de, caso se decida a isso, de ver a luz e a própria realidade. Quase que podemos dizer que a fúria de Ajax foi o caminho que conduziu o homem de filho onírico das sombras ao ser que pode ver a luz. Não sei, se estes pensamentos que me ocorreram nesta manhã de sábado se adequam à natureza deste dia de descanso e ócio. Os antigos gregos, porém, acreditavam que o amor à sabedoria nasce precisamente do ócio. Estou com saudades de ver o mar. Não há ócio melhor do que escutar a voz rumorosa do oceano.

sexta-feira, 25 de março de 2022

Poeiras agarenas

As poeiras do deserto tornaram a visitar-nos. Ontem tinha o carro tão lavado, graças à chuva dos últimos dias, e hoje, quando cheguei perto dele, constatei estar literalmente empoeirado. Parece que agora entre a península e o deserto se estabeleceu um protocolo de intercâmbio. O deserto envia as poeiras em excesso e a península há-de enviar-lhe qualquer coisa de que não precise, embora eu não saiba bem o quê. Para além da vexata quaestio das poeiras, há outro problema que me atormenta, o do nome do deserto. Não sei bem porquê, habituei-me a grafá-lo com um h entre dois aa, Sahara. O dicionário que uso economiza um pouco e elimina o h, talvez por ser cronicamente mudo. Por outro lado, o jornal de que sou assinante, no seu livro de estilo, optou ainda por uma ainda maior economia e escreve o deserto do Sara. Ora, isto parece-me uma incongruência. Aliás, uma dupla incongruência. A primeira incongruência tem a ver com Sara. Ora deveríamos dizer que as poeiras vieram do deserta da Sara. É sempre possível imaginar que uma antiga e muito poderosa matriarca fosse a proprietária de tal deserto. A segunda incongruência é que a mulher que foi para o deserto não foi Sara, mas Agar. Como todos sabemos, Sara era estéril e Abraão teve de recorrer aos serviços de uma escrava egípcia, uma barriga de aluguer na época, Agar, para se tornar pai. A coisa correu bem, nasceu Ismael, mas depois as sortes mudaram. Não vou aqui contar a história, que não é particularmente edificante. O que quero afirmar é que se era para dar um nome de mulher a um deserto, deveria ter sido o de Agar. Se fosse esse o caso, hoje estaríamos a receber poeiras agarenas na Península e a protestar contra a mãe da moirama, dos agarenos ou ismaelitas. Isto lembrou-me um exercício com que me entretinha nos finais da escola primária. Contar as designações dadas, nos manuais adoptados, aos povos do Islão. Mouros, árabes, infiéis, muçulmanos, maometanos e sarracenos. Claro que poderia ter acrescentado, sem grave prejuízo, as designações de agarenos e ismaelitas. Um pouco mais tarde entretive-me a contabilizar as designações dos que nascem em Lisboa. Para além de alfacinhas, eles são lisboetas, lisboeses, lisboninos, lisbonenses, lisboenses, lisboanos. Isto tudo, para além de olisiponenses, lisboetas com inclinação para os estudos clássicos. Foi a partir da multiplicidade das designações possíveis dos naturais de Lisboa que eu compreendi por que razão aquela cidade é a capital de Portugal. Hoje é sexta-feira, como se nota pelo escrito. Agora, vou fazer umas compras para o jantar, segundo fui informado. Ao menos podia chover para me lavar o carro das poeiras agarenas.

quinta-feira, 24 de março de 2022

Ninguém

As coisas conspiram para me levarem a falar do tempo. A barra de ferramentas do Windows mostra-me um guarda-chuva azul aberto. Segue-se-lhe a seguinte informação: Chuva em breve. Por mais que eu a queira evitar, a questão persegue-me. No entanto, eu não sei se a informação é uma descrição de um estado real do mundo, embora futuro, ou apenas a manifestação de um desejo por parte do software que gere estas coisas. Se for uma descrição do estado do mundo, preocupa-me a imprecisão do ‘em breve’. Quantos minutos ou horas representará? Mudando de assunto. Tenho aberto à minha frente um livro de Herberto Helder. O poema começa assim: Minha cabeça estremece com todo o esquecimento. Ao ler isto, estremeci. Descobri que chego a esquecer-me do que vou dizer quando falo com alguém. Uma frase que deveria ser dita daí a uns segundos – em breve – desaparece-me da mente. Talvez eu não devesse dizer mente, mas consciência. Mente tem uma tonalidade anglo-saxónica. Por lá, eles têm mentes. Na Europa continental, temos consciência. Portanto, as frases que se me varrem, varrem-se-me da consciência e não da mente. Isto significa que estou com contínua propensão para a perda de consciência. O poema de que falei, depois de se expandir, como um exército invasor, por quatro páginas e meia acaba com o seguinte verso: A sonhar. Ocorreu-me que poderíamos elidir todos os outros versos e ficar apenas com o primeiro e o último: Minha cabeça estremece com todo o esquecimento. / A sonhar. Esta nova composição dá-me outra perspectiva do meu estado. É a sonhar que a minha cabeça estremece com todo o esquecimento. Talvez tudo isto não passe um devaneio onírico, ou talvez esteja a falar de esquecimento porque hoje fui visitar alguém que se esqueceu de que sou o seu próprio filho e me perguntou várias quem sou. Suspeito que estou já reduzido à condição do Romeiro, do Frei Luís de Sousa. Sou ninguém, embora isso não seja compatível com o ensinamento cartesiano de que sou uma coisa pensante, uma alma. Talvez uma coisa pensante seja um ninguém, um sujeito despido de biografia. Um ser de papel. Agora vou videoconferenciar.

quarta-feira, 23 de março de 2022

Falar do tempo

Muitos destes escritos contêm anotações meteorológicas, como se eu fora um velho agricultor preocupado com o destino das sementeiras, das searas, das colheitas. Não sou, mas é possível que todos tenhamos não uma alma agrícola, mas algum gene que, vindo do passado, se manifeste nesta preocupação com o estado do tempo. Uma outra teoria também é plausível. Quando as pessoas se encontravam e nada tinham em comum, nada tinham para dizer umas às outras, o estado do tempo era salvífico. É isso que pode acontecer comigo. A falta de assunto. Podia discorrer sobre a justiça no mundo. Não faltariam casos exemplares para mostrar que ser injusto tem bom rendimento e, por isso, os que o podem ser não hesitam em espalhar o sentimento de injustiça entre as suas vítimas. Têm sempre a esperança de que a força os livrará de algum percalço. Esta esperança, contudo, assenta numa aposta. Se se olhar para a história dos homens, não faltam casos de gente militantemente malévola que morreu sem que sobre ela o destino fizesse cair mão pesada. No entanto, não são poucos os casos que exemplificam o contrário e que corroboram o ditado popular cá se fazem, cá se pagam. Tudo isto daria lugar a interessantes discussões sobre o mal no mundo e o papel da Providência divina na atribulada história dos homens, a qual nunca se cansa de sangue. Um dos argumentos mais poderosos contra a existência de Deus prende-se com isto mesmo. Se Deus é sumamente bom, misericordioso, omnisciente e omnipotente, então o mal não poderia existir. Porquê? Porque Deus saberia da sua existência, devido à omnisciência, e, porque é sumamente bondoso e misericordioso, não o permitiria, pois, sendo omnipotente, teria poder para tal. Como o mal existe no mundo, como se vê a cada momento, Deus não poderia ter pelo menos uma daquelas características. Não seria bondoso e misericordioso, caso fosse omnisciente e omnipotente. Ou, então, se fosse omnisciente, bondoso e misericordioso, não seria omnipotente. Há várias tentativas de responder a este argumento, mas a mais interessante é a dos teístas cépticos. Confessam a sua crença em Deus, mas reconhecem-se impotentes para compreender as suas razões e porque permite o mal no mundo. Talvez seja esta incompreensão das razões divinas que permite que refinados filhos da mãe sejam ao mesmo tempo crentes e completamente malévolos, apostando em espalhar a crença à força do sangue dos outros. Têm esperança – ou apostam – que o mal que fazem se encontre justificado por alguma razão divina que desconhecemos. São também cobardes. Ao menos Maquiavel foi claro. Quem quiser exercer e segurar o poder não pode aspirar a outra coisa senão ao inferno. Ora, esta gente quer tudo. Quer criar um inferno para os outros e reservar um lugarzinho catita no céu para eles. Talvez seja melhor falar no tempo.

terça-feira, 22 de março de 2022

Metáforas dispensáveis

Está um início de Primavera incerto. S. Pedro, depois de muito instado, lá se comoveu um pouco e começou a deixar cair alguma chuva, mas longe da exuberância que a secura vivida até agora exige. Talvez o santo esteja surdo e não oiça as preces. Talvez as orações saiam de vozes impotentes para se fazerem ouvir. Num caso como este, seria aconselhável usar vozes de soprano e deixar os barítonos e os baixos de folga. Depois de almoço, dei uma vista de olhos pela imprensa. A realidade continua a cheirar mal, e isto é um eufemismo. Nada que incomode, todavia, o bando de adolescentes que espera a hora de entrada no centro de línguas aqui ao lado. Protegem-se da chuva debaixo de uma varanda e para eles não há realidade, nem dor, nem ideias loucas, nem sequer tempo. Vivem na eternidade, na deflagração hormonal, no vozear dos sentimentos que os atravessam. Quando o sol encontra uma camada mais fina de nuvens, deixa cair sobre a cidade uma luz irreal. Na avenida, passam pessoas com chapéus de chuva na mão. Imagino-os a rodar a grande velocidade, como se fossem hélices, erguendo os donos aos céus. O pior, porém, é a gravidade que insiste em não suspender a sua lei de ferro, condenando aqueles pobres transeuntes a deslocarem-se a pé, roubando-lhes a oportunidade de ver o seu mundo um pouco mais de cima. Fui consultar a minha aplicação meteorológica para nela ler a vontade de S. Pedro. Parece que vai haver chuva nos próximos tempos. Terá ouvido as preces. Imagino que lhe tenham oferecido um aparelho auditivo. Só uma última recomendação ao santo padroeiro da meteorologia. Quando nós, pobres mortais, pedimos chuva, a expressão é para se ser entendida de forma literal. Chuva mesmo, água a cair dos céus. Não estamos a pedir chuva em sentido figurado, bombas a cair do empíreo. Neste caso, as metáforas são dispensáveis.

segunda-feira, 21 de março de 2022

Perplexidade

Só hoje dei conta da morte, no passado domingo, de Gastão Cruz, um dos poetas portugueses mais significativos da segunda metade do século XX. Um breve poema de Escarpas (2010): Como é possível que o silêncio pare / e o som não regresse? É o segundo oxímoro para uma ausência. Muitas vezes, a poesia é um campo de batalha onde se defrontam os que defendem ser ela puro ritmo, quase música, e os que vincam o sentido que emerge da versificação. Entre os dois bandos existem outros intermédios. Não vou tomar partido na querela, mas sublinhar uma outra coisa que o dístico de Gastão Cruz revela, e que não é ritmo nem sentido, mas a ausência, essa coisa que o poema descobre entre som e silêncio. Essa coisa inominável confronta-nos, presos que estamos aos pares de opostos e às gradações entre os dois pólos, algo já presente no pitagorismo, com um mundo que não se adequa à nossa capacidade de descrição. O sublinhar dessa ausência é um modo de confrontar os limites do entendimento e manifestar que há mais coisas do que aquelas que pensamos existirem ou que haverá outros limites que nãos os da experiência possível. A ausência é a manifestação de uma presença, da presença daquilo que não conseguimos nomear, que não é som, nem silêncio, e que se manifesta na perplexidade poética sublinhada pela interrogativa. Esta perplexidade não é outra senão aquela que emerge perante uma hierofania. Penso que o almoço não me terá feito bem. Não devia escrever coisas como as que acabo de escrever. A consciência, porém, gritou-me que se o fiz, foi porque não tinha outro assunto. Talvez ela tenha razão, mas a crermos na lição do dr. Freud, todas as razões conscientes não passam de distorções de motivações inconsciente e, porventura, inconfessáveis. Não é que este narrador creia na narrativa do velho Sigmund, mas o mais sensato é não descartar nenhuma hipótese. Vou espreitar o friso das orquídeas.

domingo, 20 de março de 2022

Tempo de Papagenos

Começou maldisposta a Primavera. Há pouco fui a uma aldeia aqui perto comprar laranjas. Por vezes, tenho umas quedas no bucolismo e imagino que, consumindo produtos da zona, estarei a animar a economia local. Pura fantasia. Comentei que o céu estava muito escuro e recebi como resposta da vendedora de que iria chover lá para as cinco horas. É o que dizem, acrescentou, não fosse eu pensar que ela era uma profetiza de outros tempos. Profetiza ou não, a realidade é que chove e estamos em cima das cinco da tarde. A indisposição da Primavera, tema inicial do escrito, talvez se deva a ela rejeitar a realidade de já ter nascido, de estar numa atitude de negação. Imagino que preferisse ficar onde estava por mais uns dias, até para ver como param as modas por estes lugares. O pior foi o Inverno ter-se recusado a continuar em funções e, para não haver um vácuo estacional, a Primavera lá chegou, mas tristonha, zangada, sem aquela exuberância que toca nos corações para os incendiar, para que os Papagenos deste mundo encontrem as suas Papagenas e, sobre a Terra, existam muitos Papageninhos e Papageninhas, uma grande família de passarinheiros que trabalhem nas florestas da Rainha da Noite, essa malvada. Escuto um Stabat Mater Dolorosa, de Orlando de Lassus, interpretado pelo The Hilliard Ensemble. Acho estas peças da Renascença mais adequadas ao dia de hoje do que a maçónica Flauta Mágica, de Mozart, de onde veio a família dos Papagenos. O domingo entardece. Quando dei a volta pela cidade, quase não se via ninguém, tudo recolhido ou, o mais certo, eu vivo numa cidade fantasma, de onde os habitantes foram evacuados, mesmo sem qualquer ameaça de guerra. Talvez por precaução, pois nunca se sabe do que é capaz a Rainha da Noite.

sábado, 19 de março de 2022

Carbonária da língua

Descobri há dias onde, no Word, se selecciona a forma como a correcção ortográfica pode ser verificada. Como vivemos numa sociedade marcada pela liberdade de escolha, são oferecidas três possibilidades de correcção – em honra de Milton Friedman, imagino eu – para o cliente português escolher como quer ver corrigida a sua ortografia. Temos uma versão pré-acordo, uma versão pós-acordo e, para os indecisos, uma versão que é, ao mesmo tempo, pré e pós. Em tudo o que é sério ou que me dá algum prazer, uso a versão pré-acordo. Nos usos triviais marcados pela necessidade, uso o pós-acordo, adoptado por quem ordena as coisas que não devia ordenar. A partir dessa descoberta, não há dia em que não saltite entre pré e pós. Não uso a possibilidade dupla, porque se deve evitar a promiscuidade. Esta não é apenas responsável pelo alastrar de doenças sexualmente transmissíveis, mas também de formas ortográficas hilariantes, em que o pobre escrevedor tanto escreve concepção como conceção, numa algaraviada destituída de sentido. Neste momento, como estou a usar a versão pré, o Word assinala, e muito bem, conceção como erro. Caso mude para a versão pós, a língua também muda. Passa a ser erro concepção. Em tempos desenvolvi uma teoria extraordinária contra o acordo ortográfico. Embora ninguém a tivesse levado em consideração, penso que fornece, através de um poderoso argumento por analogia, razões suficientes para pôr fim ao desvario do pós-acordo. Explicava eu que, por exemplo, as consoantes mudas são os vestígios do passado da nossa língua. Ora, também os castelos, as ruínas romanas, os mosteiros onde não há monges, etc. são vestígios da nossa história. Apagar as consoantes mudas é tão criminoso, como destruir o castelo de Guimarães ou de S. Jorge, Conímbriga ou o mosteiro da Batalha. Ninguém me deu ouvidos e agora anda por aí um linguajar que perdeu o vínculo à história da nossa língua. A culpa de tudo isto começou há muito, quando, no furor da República, uns carbonários da língua decidiram bombardear a presença grega na ortografia portuguesa. Aviso aos mais novos: os carbonários portugueses, incluindo os da língua, não o eram porque gostassem particularmente de esparguete à carbonara, embora as duas palavras, nascidas em Itália, tenham a mesma origem, o carvão.

sexta-feira, 18 de março de 2022

Ginástica

Olho pela janela do escritório. Está uma tarde luminosa. O céu tem estado de um azul puríssimo. Nos campos de jogos da escola aqui ao lado, bandos de adolescentes, enfileirados, correm batendo bolas de basquetebol, é o que me parece. Sempre são uns duzentos ou trezentos metros de distância. Imagino que estarão numa aula de Educação Física. Eu sou do tempo em que não havia Educação Física. O que tínhamos era Ginástica, um eufemismo para uma coisa em que se era posto a correr à volta de um campo ou a fazer corta-mato, enquanto o professor lia o jornal ou punha a vida em ordem. Desconfio, embora sem qualquer prova, que havia, por esses tempos, um programa por cumprir, mas os professores – se o eram, pois devido à escassez eram recrutados uns curiosos que tinham sido militares ou praticado algum desporto – tinham uma grande liberdade curricular. Hoje em dia já não será assim, mas isto é apenas uma suposição. Refiro-me à província. Em Lisboa ou no Porto, nos liceus as coisas seriam diferentes. Os senhores doutores que ensinavam por lá seriam mesmo licenciados. Por aqui, muitos senhores doutores, gente com real destaque na vila provinciana e pacata, era gente com cursos por completar há muito, que tratava da vida dando umas aulas. Havia-os bastante talentosos. Tive um, um autêntico cavalheiro, que me ensinou Francês. Mais tarde descobri que era senhor doutor por ter passado por Coimbra, onde se dedicou a fazer umas gincanas e outras actividades extracurriculares, embora se tenha esquecido de estudar. Coisa que acontecia a muito boa gente. Seja como for, foi um dos melhores professores que tive. Nas aulas, fumava desalmadamente cigarros Monserrate. Era um tempo heróico. De tal maneira, que o primeiro cigarro que fumei foi na casa do director do colégio que frequentava. Era amigo de um dos filhos. Esse director, um senhor doutor a sério, era das pessoas mais inteligentes que conheci até hoje, e, apesar de nunca ter sido seu aluno, foi outro dos professores que me marcou. E não por causa do tabaco, apesar de ele ser um fumador inveterado. Do que me fui lembrar.

quinta-feira, 17 de março de 2022

A rameira da realidade

O céu mudou de cor, abandonou o agoirento laranja e abraçou a cor cinza, tudo numa ordem irrepreensível. Se ontem o céu parecia em fogo, faz sentido que hoje aparente ser cinza. O que terá ardido é um mistério sem solução. A nossa espécie, por vezes, entrega-se a grandes quimeras. Crer que tudo poderá explicar recorrendo ao cérebro com que foi dotada. Ora, por mais actualizações que o software que o gere sofra, ele, esse hardware neuronal, tem limitações, as quais são inultrapassáveis, a não ser que se mude também o hardware, mas nesse momento já não seremos seres humanos, mas outra coisa qualquer. Talvez fosse nisso que estava a pensar Nietzsche quando anunciou o advento do super-homem. Com outro hardware esse ser pós-humano haveria de produzir outro tipo de software e, por isso, de valores. O século XIX foi um tempo muito propício a este tipo de ficções. Um outro autor desse século profetizou o advento, eliminada a propriedade privada, do paraíso na terra. Aquilo deveriam ser tempos terríveis, pois não havia quem não quisesse pôr-se a milhas da realidade em que vivia. Uns fugiam de si, outros da sociedade, mas acabaram todos por morrer prosaicamente no corpo que eram e no lugar em que viviam. A realidade é uma rameira com grande experiência e nunca deixa de levar a sua avante.

quarta-feira, 16 de março de 2022

Invasões

Esta luz alaranjada que escorre do céu enlouquece-me. Talvez esta afirmação seja falsa. Verdadeira poderá ser outra. Vejo uma luz alaranjada a escorrer do céu porque estou louco. Também pode acontecer que eu apenas esteja numa deriva narcísica e que a cor da luminosidade nada tenha a ver comigo, mas com os próprios céus que enlouqueceram. Se assim for, adiro ao temor dos gauleses e olho constantemente para cima para me proteger caso os céus comecem a cair. Há ainda outras possibilidades. A coloração celestial ser um presságio nefasto, mas não é isso que escuto no vozear dos adolescentes que jogam à bola na praceta. Não lhes toca onda ruim de qualquer mau prenúncio, logo não se trata agoiro negativo. As forças do mal têm andado demasiado activas nestes últimos tempos para terem energia para lançar novo ataque. Pode também acontecer que alguns anjos se tenham entregado a tortuosas experiências estéticas e tenham dito: vamos lá pintar o céu de amarelo para ver o que acontece. Dito e feito, pintaram o céu de amarelo. Esta é uma boa explicação, porventura a melhor. A que me parece menos verosímil é a da história das areias do Sahara terem decidido invadir a Península Ibérica. Quem acredita em invasões?

terça-feira, 15 de março de 2022

Exaltação e exaltados

Estes são dias de exaltação. Anda tudo um bocado exaltado, até eu que já não tenho idade para isso, desabafou comigo, a meio da manhã, o padre Lodo. Respondi-lhe que sempre imaginei os Settembrini como cultores de uma exaltação de fundo disfarçada pela pose serena de quem contempla o mundo com ironia. Ele riu-se, depois lamentou os seus amigos ucranianos. Conheci vários, continuou, quando participava em reuniões ecuménicas por essa Europa fora. Não apenas sacerdotes, mas também leigos. Os religiosos de leste são diferentes dos latinos, possuem um vínculo mais sério com aquilo que a religião tem de exigente e sacrificial, enquanto os de cá parecem mais comprometidos com a vida confortável, como se fossem guiados por um ideal burguês. Eu mantive-me em silêncio, enquanto ele continuava a sua comparação. Ao perceber que eu não intervinha, disse-me: já sei o que está a pensar, que eu sou esse protótipo de sacerdote burguês. Não digo que não, mas o que hei-de fazer, um pouco de boa vida ajuda muito a uma vida boa. Quase que estive para lhe perguntar se não tinha pena de não ter filhos e netos, mas calei-me. Depois, despediu-se, informando que tinha entre mãos a correspondência, outrora secreta, entre o seu avô e o incorrigível Leo Naphta. Nem tudo o que corre por aí corresponde à verdade, mas isso passa-se com tudo, concluiu.

segunda-feira, 14 de março de 2022

Múmias

Sou informado de que há oito mil anos já havia múmias no vale do Sado. Talvez, imagino, o território português seja o lugar de origem da mumificação. Esta conclusão não a retiro da notícia, mas de ver por aí tanta múmia viva. A mumificação geral da nossa sociedade alguma causa haverá de ter. Esta – a de ser uma antiquíssima tradição – parece-me a melhor explicação disponível. Antes de sermos mumificados, já somos autênticas múmias. Eu sei que há por aí muita gente que se acha o contrário de múmia, pessoas sempre em movimento, sempre com o cérebro a fervilhar de ideias, sempre prontas para lançar o caos. O lamentável é que na essência são autênticas múmias, e o que conta não é a aparência, mas a essência. Há múmias paralíticas – para citar uma séria humorística brasileira cujo nome não se mumificou na memória – e há múmias andantes, múmias de triste figura, talvez parentes, por linhagem colateral, daquele cavaleiro manchego que confundia moinhos com gigantes. As segundas-feiras não deveriam ser propícias para a exibição dos meus dotes de sociólogo, mas, à falta de assunto, não consegui evitar. Pior, seria ter dotes de economista. Punha-me aqui a fazer previsões e, como qualquer economista que se preza, não as conseguiria acertar, mesmo depois dos factos ocorridos. Em economia nem depois dos jogos é seguro fazer previsões. Amanhã, pelas doze horas, Março atingirá o meio do caminho. O tempo voa, embora não se lhe conheçam asas, nem hélices.

domingo, 13 de março de 2022

Conspiração contra o domingo

Contrariamente ao hábito, o almoço de domingo foi cedo. Talvez por isso sinta um leve desconforto. Os hábitos – os velhos hábitos – devem ser conservados e apenas, em última instância, se deve admitir uma alteração, o que não foi o caso. O problema reside no aspecto que logo o domingo toma. Comporta-se como um dia útil, o que é uma maldade para a qual não há nome. Os domingos devem ser dias inúteis. Aliás, qualquer dia que se presasse deveria ser inútil. Eu sei que não somos seres destituídos de corpo e que este nunca se cansa de nos lembrar que a carne é fraca e está submetida à tirania da estrita necessidade. Há na nossa natureza de homo sapiens sapiens, isto é, de homens que sabem que sabem, uma armadilha, a mais cruel e desassisada das armadilhas. Foi-nos dado o poder de pensar e a faculdade de imaginar, mas ao mesmo tempo, como meros animais, estamos submetidos a ter de fazer pela vida. Fôssemos saguins ou marmotas e não haveria lugar para este sentimento de desadequação entre a realidade e o que podemos pensar e imaginar. Como já aqui escrevi – e será um leitmotiv destes textos – a realidade sofre de uma deficiência ontológica estrutural. Nunca é como deveria ser. Pelo contrário, há nela um princípio conspiratório que se compraz em desdizer não só os nossos mais legítimos desejos, como desmente constantemente aquilo que pensamos. Hoje é um domingo com aspecto de dia útil, nem sequer vou ter a melancolia do domingo à tarde. O mundo já não é como era.

sábado, 12 de março de 2022

Em tom de elegia

Nem sei bem a razão, mas há pouco tomei consciência de que no ano passado morreram dois poetas importantes. Primeiro, Pedro Tamen, estava Julho a preparar-se para ceder o lugar a Agosto. Depois, Fernando Echevarría, mesmo no dia anterior à comemoração da República. É possível que tenham morrido outros poetas durante esse malfadado ano, mas disso não tenho consciência. Lembro-me bem de um ano em que a morte também decidiu, naquele arbítrio que lhe rege as escolhas, levar dois outros poetas importantes. Foi o de 1978. Quase eu não tinha idade, embora tivesse ocupado largos meses desse ano com o cumprimento dos meus deveres militares. Nesse longínquo ano, a incansável ceifeira levou Jorge de Sena e Ruy Belo. Este tinha quarenta e cinco anos e Sena ainda não chegara aos sessenta. Nesse ano, também morreu Jacques Brel. Nunca esqueci, pois faziam parte do meu mundo, isto é, do conjunto de referências que começara a construir no início da juventude, seja lá isso o que for. Não vale a pena perguntar-me a razão porque enveredei por este escrito fúnebre. Talvez porque o dia tenha estado triste, talvez porque o Andante tranquilo do primeiro Quarteto de cordas de Joly Braga Santos me tenha disposto para a elegia, talvez porque não tenha mais nada para dizer. Um anjo agastado que habita no meu escritório, não se esqueceu, agora mesmo, de me admoestar. Quem não tem nada para dizer, o melhor é calar-se. Obedeço.