sábado, 12 de março de 2022

Em tom de elegia

Nem sei bem a razão, mas há pouco tomei consciência de que no ano passado morreram dois poetas importantes. Primeiro, Pedro Tamen, estava Julho a preparar-se para ceder o lugar a Agosto. Depois, Fernando Echevarría, mesmo no dia anterior à comemoração da República. É possível que tenham morrido outros poetas durante esse malfadado ano, mas disso não tenho consciência. Lembro-me bem de um ano em que a morte também decidiu, naquele arbítrio que lhe rege as escolhas, levar dois outros poetas importantes. Foi o de 1978. Quase eu não tinha idade, embora tivesse ocupado largos meses desse ano com o cumprimento dos meus deveres militares. Nesse longínquo ano, a incansável ceifeira levou Jorge de Sena e Ruy Belo. Este tinha quarenta e cinco anos e Sena ainda não chegara aos sessenta. Nesse ano, também morreu Jacques Brel. Nunca esqueci, pois faziam parte do meu mundo, isto é, do conjunto de referências que começara a construir no início da juventude, seja lá isso o que for. Não vale a pena perguntar-me a razão porque enveredei por este escrito fúnebre. Talvez porque o dia tenha estado triste, talvez porque o Andante tranquilo do primeiro Quarteto de cordas de Joly Braga Santos me tenha disposto para a elegia, talvez porque não tenha mais nada para dizer. Um anjo agastado que habita no meu escritório, não se esqueceu, agora mesmo, de me admoestar. Quem não tem nada para dizer, o melhor é calar-se. Obedeço.

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