O céu mudou de cor, abandonou o agoirento laranja e abraçou a cor cinza, tudo numa ordem irrepreensível. Se ontem o céu parecia em fogo, faz sentido que hoje aparente ser cinza. O que terá ardido é um mistério sem solução. A nossa espécie, por vezes, entrega-se a grandes quimeras. Crer que tudo poderá explicar recorrendo ao cérebro com que foi dotada. Ora, por mais actualizações que o software que o gere sofra, ele, esse hardware neuronal, tem limitações, as quais são inultrapassáveis, a não ser que se mude também o hardware, mas nesse momento já não seremos seres humanos, mas outra coisa qualquer. Talvez fosse nisso que estava a pensar Nietzsche quando anunciou o advento do super-homem. Com outro hardware esse ser pós-humano haveria de produzir outro tipo de software e, por isso, de valores. O século XIX foi um tempo muito propício a este tipo de ficções. Um outro autor desse século profetizou o advento, eliminada a propriedade privada, do paraíso na terra. Aquilo deveriam ser tempos terríveis, pois não havia quem não quisesse pôr-se a milhas da realidade em que vivia. Uns fugiam de si, outros da sociedade, mas acabaram todos por morrer prosaicamente no corpo que eram e no lugar em que viviam. A realidade é uma rameira com grande experiência e nunca deixa de levar a sua avante.
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