Estes são dias de exaltação. Anda tudo um bocado exaltado, até eu que já não tenho idade para isso, desabafou comigo, a meio da manhã, o padre Lodo. Respondi-lhe que sempre imaginei os Settembrini como cultores de uma exaltação de fundo disfarçada pela pose serena de quem contempla o mundo com ironia. Ele riu-se, depois lamentou os seus amigos ucranianos. Conheci vários, continuou, quando participava em reuniões ecuménicas por essa Europa fora. Não apenas sacerdotes, mas também leigos. Os religiosos de leste são diferentes dos latinos, possuem um vínculo mais sério com aquilo que a religião tem de exigente e sacrificial, enquanto os de cá parecem mais comprometidos com a vida confortável, como se fossem guiados por um ideal burguês. Eu mantive-me em silêncio, enquanto ele continuava a sua comparação. Ao perceber que eu não intervinha, disse-me: já sei o que está a pensar, que eu sou esse protótipo de sacerdote burguês. Não digo que não, mas o que hei-de fazer, um pouco de boa vida ajuda muito a uma vida boa. Quase que estive para lhe perguntar se não tinha pena de não ter filhos e netos, mas calei-me. Depois, despediu-se, informando que tinha entre mãos a correspondência, outrora secreta, entre o seu avô e o incorrigível Leo Naphta. Nem tudo o que corre por aí corresponde à verdade, mas isso passa-se com tudo, concluiu.
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