Sento-me e pego num livro, do poeta Daniel Jonas, denominado
Oblívio. Como os amores, também há títulos
perfeitos, concluo. Oblívio é a fase da existência em que entrei. Assim como
antes a memória era excessiva, agora o esquecimento progride sorrateiro mas
voraz. E com isto esqueci-me do que queria vir aqui contar. Não sei se um
episódio que me atormentou o dia – mas qual? – se uma descoberta que a noite me
trouxe. E é neste oblívio que tento navegar no mar encapelado da vida. O melhor
seria ir dar uma volta e fumar um cigarro, talvez me lembrasse, mas não sou animal
noctívago e há tempo que não toco em tabaco. Vale-me o título do livro que se
estende para mim como uma mão solidária, como quem diz que, em matéria de
esquecimentos, não estou sozinho no mundo. O melhor, penso, será seguir o
conselho do poeta: “Pedala, vá pedala, não faz mal; / De tanto pedalares, nesse
tour / De igual cenário és um novo
Artur, / Um velho visionário pelo Graal.” E escrito isto, logo me lembrei que,
depois de jantar, não consegui recordar-me se tinha tomado o comprimido para a
tensão arterial.