Sento-me sob o sol desmaiado da tarde e deixo que ele desça
sobre mim. Vejo os ramos do arvoredo a balançar, um vento frio toca-os e, uma a
uma, arranca-lhes as folhas secas. Ao fundo, os carros passam devagar, como se
esperassem mais alguma coisa de um dia que nada mais tem para lhes dar, a não ser
a permissão esquiva de passarem lentamente. Fixo-me nas folhas. O vento açoita-as
e elas entregam-se a uma dança acrobática antes de poisarem, secas, leves e
mortas, tão mortas, no chão. E em cada folha, vejo-me a ser arrastado pelo
vento, vejo-me livre em plena queda que me conduz para a terra que há-de ser a
casa da minha eternidade. Dezembro é um mês frio, pensei. Ergui-me e admiti,
após breve exame, que raramente escrevo sobre pessoas. A minha alma pertence ao
deserto, exclamei, mas não havia ninguém para me ouvir.