As segundas-feiras, com o seu excesso de realidade, não
deixam de ser dias enigmáticos. São como uma rede desmedida que captura os
homens no mar do ócio e os descarrega no porão do trabalho, onde prestam o
forçoso tributo à necessidade. Também eu sou levado na rede e, ao cruzar-me com
outras vítimas da grande captura, nunca deixo de me espantar com o seu ar de
felicidade. São múltiplas as causas que movem os homens, penso então, perdido nestas
manhãs de frio cortante. O melhor é entregar a felicidade de cada um àquilo que
o anima e deixar-me de enigmas com temperaturas tão baixas. Metáforas não
aquecem ninguém e, numa sala sombria, haverá gente à minha espera, para que eu
lhe fale de coisas que ninguém quer ouvir e que eu, se não tivesse tanta
propensão para a irrealidade, me absteria de dizer. Não são dias fáceis as
segundas-feiras. E o pior é que não chove.