Penso muitas vezes na inevitabilidade das coisas e na
estranha cegueira que cai sobre os mortais. Não estou a falar daquilo que
acontece necessariamente devido a uma lei qualquer da natureza. Refiro-me ao
que poderia não acontecer – e que, muitas vezes, seria desejável que não
acontecesse – mas que acabará por acontecer. Há um momento em que isso poderia
ser evitado, mas a cegueira para o que pode vir é tanta que, quando tudo se
torna manifesto, já é tarde para o evitar. Os que se riam da mera possibilidade
são os primeiros a chorar, como se eles não fossem, por omissão, uma causa do
estado lamentoso a que se chegou. Os deuses são travessos e raramente perdem
oportunidade para se rirem das lágrimas dos homens.