Os dias ensolarados de Fevereiro arrastam consigo a triste
propensão de nos darem a pensar aquilo que deveríamos não trazer à memória. Algumas
contabilidades esquivas têm tendência, se nos descuidamos, a colocar-nos
perante o número de anos já vividos. O pior do exercício não será tanto a
compreensão da cada vez mais próxima falência do projecto, com o encerramento
definitivo da aventura. A falência é a contrapartida necessária e incondicional
de as portas terem sido abertas. O pior é aquela linguagem cifrada em livro
razão, balanço, deve e haver. Toda a vida é vista, então, como um acumular de
entradas e saídas, a que o exercício esotérico da contabilidade parece ser
chamado a examinar. Consta que Sócrates, o mestre de Platão, terá dito que uma
vida não examinada não merecer ser vivida. E o anjo negro, aquele que também
habita dentro de nós ao lado do anjo branco, pergunta: e uma vida examinada
será que merece? O melhor é ir apanhar sol e ver se falta muito para os
castanheiros da avenida florescerem.