Já falta menos de um mês – e um mês amputado dos dias a que Fevereiro não teve direito – para que chegue a Primavera. O dia de hoje parece anunciá-la. O sol deu um ar da sua graça, embora de forma muito comedida. Ora brilha, para que árvores e vidros resplandeçam, ora se recolhe por detrás das nuvens, para que a luz se derrame difusa, com um tom de melancolia, que não deixa de lhe ficar bem. Na rua ouvem-se vozes de criança e, nos parapeitos das janelas, os pássaros conversam entre si, enquanto tomam um banho solar. Num vídeo acabado de receber, o meu neto dá saltos em cima de uma cama e parece exultante. Julgo que não haverá criança que não goste de pular em cima de uma cama. A minha neta mais velha, contam-me, entrou no clube das mulheres. Apareceram-lhe as regras, com se dizia antigamente, embora a linguagem usada na comunicação tivesse sido mais moderna. O tempo desliza demasiado depressa e ela já não virá para o meu escritório com a irmã brincar aos colégios, às professoras e alunas, às inscrições e faltas às aulas a serem reguladas com severidade com alguma mãe distraída. Com os saltos de um, as regras de outra, a expectativa da que ainda não se regulou, vou sendo empurrado para fora do mundo. O pior é o confinamento. Sem ele, talvez hoje estivessem aqui a almoçar, e o deslizar em direcção à grande e eterna noite fosse mais aprazível, pois haveria de esquecer, ao vê-los e ao ouvi-los, que o tempo é um príncipe inexorável na sua justiça. Um pássaro canta, a escola ao lado recorda um filme distópico, onde tudo foi abandonado. É domingo, e essa é a única coisa que me ocorre de momento.
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