Apesar dos esforços e dos afazeres timbrados com o selo do calendário, o tempo persiste a desdiferenciar-se, a perder as qualidades com que longas tradições o investiram. Talvez todas as coisas tendam, apesar dos esforços em contrário, para a igualdade, para se mesclarem no magma da existência, perdendo qualidades. Não sei se pensar nestas coisas me dá sono ou se as penso porque estou com sono. A vida arrasta-se ao sabor das notícias, como se arrastam os carros pela avenida movidos pelas necessidades da existência. Solicitam-me uma opinião, logo a mim que faço os possíveis por evitar esse dano que é ter opiniões. Quando era novo tinha muitas opiniões, à medida que o tempo foi passando fui-me despindo delas. Quando menos se percebe o mundo mais opiniões se tem, quanto mais opiniões se tem menos se percebe o mundo. Depois, sem se saber muito bem a razão, começa-se a perder a vontade em sustentar as presunções pessoais. O silêncio então cresce. Torna-se possível ficar a olhar para o que se passa e daí evitar qualquer ilação. Talvez todas estas ideias sejam condenáveis, mas não me ocorreram outras.
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