Um dia desabrido, o de do hoje. Suspeito que terá acordado indisposto, lacrimoso, talvez a sofrer de algum desgosto de amor, se ainda os há, ou de um estado depressivo. Outra hipótese é de se estar na Quaresma e o dia entregar-se aos ritos penitenciais, ao exercício do arrependimento e, por isso, chove como se chorasse, tomado por súbitos ataques de mágoa e melancolia, em que uma água gélida se derrama de nuvens cinzentas. Daqui a pouco terei de sair, atravessar a cidade de lés-a-lés. Olho para a rua e pergunto-me se esta Terra é uma excepção num universo sem medida ou se é apenas um dos mundos que por ali existem. Caso seja apenas um dos mundos habitados, será ela o melhor dos mundos possíveis? Muitas são as coisas estranhas que há universo fora, mas talvez as mais estranhas sejam a existência de mundos habitados e de neles haver seres que pensem que há mundo habitados. A chuva persiste na queda, os carros passam devagar, são quatro da tarde, mas podiam ser seis ou mesmo duas. Este confinamento é muito diferente do anterior, é o que me ocorre.
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