Os dias continuam desagradáveis. Um vento frio sopra de Sul e daqui a pouco há-de chover. Enganei-me. Já está a chover, e chove apenas para confirmar a precisão do prognóstico meteorológico lido num dos sites que se dedica a presumir como o clima se comportará. Nunca deixa de me fascinar a atracção humana pelo futuro, tão forte quanto a que existe pelo passado. Daqui não será completamente estulto concluir que o pior sítio para se viver é o presente. Deverá ser tão doloroso que a mente humana ou se volta em ânsia para o que há-de ser ou se recolhe na melancolia do que foi. Talvez a vida não seja outra coisa senão um conflito com o presente, uma descoincidência contínua com o que ocorre a cada instante. Uma pedra ou um rio coincidem plenamente com o momento, por isso não têm uma consciência infeliz. Talvez estes pensamentos sejam motivados pelo confinamento, o qual torna as pessoas meditabundas e as leva a pensar coisas que um saudável bom-senso manda não pensar. Há pouco contei as orquídeas floridas. Já são seis e as outras prometem abrir-se em esplendor para que possam ser contempladas. Um filósofo alemão de origem coreana escreveu um livro em que reflectiu sobre o tempo que dedicou ao seu jardim. Tenho pena de não ter uma vocação de jardineiro, pois essa seria a mais bela e produtiva das ocupações. Fazer crescer a beleza pelo prazer de a contemplar.
Sem comentários:
Enviar um comentário