Hoje o dia não começou mal. A balança decidiu, ao fim de vários meses de recusa, devolver-me um peso um pouco mais baixo, dando-me a esperança – ou a ilusão – de que a trajectória descendente se torne efectiva. Também não precisará de descer muito. A situação não é catastrófica, nunca o foi. Há uns anos ou há uns quilos atrás, em Madrid, deparo-me, já não me lembro se no Museu do Prado ou no Rainha Sofia, com uma exposição, amplamente anunciada pela cidade, do pintor Alberto Durero. Não fazia a ideia quem era esse Alberto, embora houvesse qualquer coisa no nome que não me era completamente desconhecida, tinha um ar familiar. Vamos ao museu e aproveitamos para descobrir esse Durero, disse. Quando chego, descubro de imediato que não existia nenhum Alberto Durero e que a exposição era do pintor alemão renascentista Albrecht Dürer. Na minha ingenuidade (e ingenuidade depois dos quarenta não é ingenuidade, mas burrice, como dizia uma amiga), nunca pensei que mesmo os espanhóis se atrevessem a traduzir-lhe o nome. Pergunto-me como traduzirão eles Liev Tolstói. Por León Tostado? Lembrei-me dessa história porque vi, num blogue dado a efemérides, que Dürer nasceu a 21 de Maio, um dia que parece não ser mau para virem ao mundo pintores. Também a 21 de Maio nasceu Henri Rousseau, o pintor precursor da pintura ingénua. Talvez devesse usar a designação pintura naïf. As areias do Sahara retornaram. Já sabia. Esse saber evitou que ontem fosse pôr o carro a lavar. Tinha entrado nele e, olhando-o com alguma condescendência, pensei que era dia de o levar à lavandaria dos carros. Ia já a caminho, quando me lembrei que estava anunciada a visita arenosa do Sahara. Adiei. O dia tem uma tonalidade irreal, uma luz esbranquiçada, como se sofresse de anemia. A temperatura, porém, está acima dos 30 graus. Parece que tenho de ir às compras. A realidade é sempre pior do que a imaginamos.
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