É tarde e estou cansado. Descobri-o porque dei uma ordem de impressão a um documento e este recusou-se a ser impresso. Dei uma segunda ordem, a recusa manteve-se inalterada. Desisti de imprimir. Amanhã, trato do caso. Um exemplo de procrastinação. Lembro-me, perfeitamente, da injunção que, num livro da escola primária, um advogado dava a um camponês que o consultou em busca de conselhos: não guardes para amanhã o que podes fazer hoje. Desconfio que nunca levei a sério aquele imperativo. Depois, descobri que me tinha esquecido de dar um novo comando à impressora e desprocrastinei. Como estou cansado, interessei-me por uma certa afirmação de Ludwig Wittgenstein: Sabemos muito bem que o nome “Schubert” não se encontra em nenhuma relação de adequação com o seu portador. Parece sensata a afirmação. O autor pretende mesmo justificá-la dizendo: O nome “Schubert” adequa-se completamente a Schubert – não significa nada. Não passaria de uma informação patológica sobre aquele que a dissesse. De facto, não é sintoma de boa saúde mental andar a dizer coisas que não significam realmente nada. Como posso, porém, saber que não há nenhuma relação de adequação entre o nome “Schubert” e a pessoa “Schubert”? A afirmação de Wittgenstein pretende dizer apenas que o nome da pessoa é uma mera etiqueta dada socialmente e não tem relação com aquilo que a pessoa é. Como poderei saber, porém, se aquela pessoa em vez de se chamar Franz Peter Schubert se chamasse Friedrich Wilhelm Nietzsche teria composto o que compôs ou mesmo se teria sido músico? Que sabemos nós do impacto que um nome pode ter no destino de uma pessoa? Imaginemos o seguinte: à pessoa x foi atribuído o nome Franz Peter Schubert, essa pessoa tornou-se o músico que conhecemos; por outro lado, à pessoa y, no mesmo dia, foi atribuído o mesmo nome e ela tornou-se um sem-abrigo. Não bastará isto para confirmar a justeza da teoria de Wittgenstein? Não, pelo contrário. Isto permite pensar que há atribuições adequadas e outras desadequadas. No primeiro caso, o nome conduz à realização de si; no segundo, o nome foi excessivamente pesado e a pessoa sucumbiu à carga que transportava. Talvez Wittgenstein tenha razão, e a minha mente esteja em avançado estado patológico. Amanhã, talvez tenha pensamentos menos idiotas. Há que não perder a esperança.
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