Queixamo-nos muito dos atrasos, mas talvez isso faça parte de uma longa tradição que remonta ao início da nacionalidade. Por certo que todos sabemos que a 5 de Outubro de 1143, pelo Tratado de Zamora, Afonso VII, rei da Galiza, Castela e Leão, reconheceu o primo, Afonso Henriques, como Rei de Portugal. Ora, o reconhecimento papal, contudo, só chegou a 23 de Maio (faz hoje 843 anos) de 1179. Tivemos de esperar quase 36 anos. Isto é mais demorado do que um processo num tribunal português. Esta longa espera, este atraso entre os factos e o direito, tornou-se em nós, portugueses, um hábito e um hábito é uma segunda natureza, na opinião de Aristóteles. Nascemos atrasados e não é claro que queiramos recuperar esse atraso. Andamos há seculos com 36 anos de atraso. A culpa, porém, não foi nossa, mas do Vaticano, que andou a encanar a perna à rã. Isto prova que encanar a perna de uma rã é um exercício demoradíssimo, que pode levar dezenas de anos. Por falar em rãs, os pássaros meus vizinhos decidiram fazer um concerto. Mais harmonioso do que se fosse um composto pelo coaxar das rãs. Os sapos também coaxam, mas imagino que o coaxar destes seja mais grave, enquanto o daquelas mais agudo, uma variação entre barítono e soprano. As segundas-feiras são sempre dias difíceis. A realidade atira-se a nós e gruda-se na pele. Para a descolar é necessário um esforço hercúleo. A energia fica toda aí, não sobrando nada para ajudar a criatividade deste texto. Paciência. O concerto acabou.
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