Um dia em bolandas. De um lado para o outro. As coisas triviais e, também, as menos triviais, mas que estão longe de ser benevolentes. Há coisas que sabemos, mas vê-las escritas tem outro peso. Estou a falar por enigmas. Também o dia está enigmático. Nublado, mas pouco inclinado para a chuva. Há a ideia de que a vida é milícia, combate constante, um corpo a corpo com a realidade. Os que seguem o caminho da acção encontram aí a normalidade, mas os espíritos contemplativos sentem-se perdidos nessa via. Uma breve clareira na floresta de nuvens e o sol brilhou por instantes, mas foi de pouca dura. Uma súbita recordação da casa onde nasci. Afasto-a, tenho muito para fazer. Não há tempo para a nostalgia. Se ao menos pudesse decifrar o enigma do dia, talvez encontrasse a chave para outras enigmas. O pior é que perdemos a chave quando chegámos a esta vida. A sua busca, a da chave, pode ser exaltante, mas agora tenho de encontrar o documento único do carro que se evaporou da carteira. A prosa da realidade é bem mais poderosa do que a poesia do devaneio, se é que neste existe poesia.
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