Como temia, repetiu-se no concerto de ontem a cena do de domingo. Quem comprou os bilhetes online tinha-os com indicação de lugar, ao contrário de quem os comprou na bilheteira. A organização ainda tentou sentar, no seu lugar, a pessoas com lugares marcados, mas em vão. No meu, estava um senhor que, fui de imediato informado pela funcionária da organização, se recusava sair daquele lugar, aquele era o dele, desse por onde desse. Teria mais uns vinte anos do que eu. Só pedi que nos dessem quatro lugares seguidos e que não fôssemos incomodados pelos detentores daqueles lugares. Uma confusão sem fim, que atrasou o concerto em quase vinte minutos. De vez em quando, o pianista, Artur Pizarro, espreitava, meio divertido, a confusão. Tudo acomodado, a organização pediu desculpa, mais uma vez, mas a responsabilidade era da empresa que vendia os bilhetes online. A tradição ali é não haver lugares marcados, o que dava razão ao senhor que ocupara, de modo selvagem, o lugar que deveria ser o meu. Depois de agradecer o aplauso do público no fim de tocar as peças de Fauré, o pianista informou os presentes de que o cachet para solista era maior que o dos artistas de música de câmara e que ele tinha contas para pagar, precisava de receber como solista. Disse-o em português e em inglês. Depois, pediu para desligarem os telemóveis. Alguém se entreve a receber mensagens enquanto o concerto decorria, num diálogo com a música de Gabriel Fauré. Para além do desempenho de Pizarro, o programa extramusical foi dos mais interessantes a que já assisti e as minhas netas estavam divertidíssimas com a animação ou talvez com a expectativa de irem à feira andar de carros de choque, que nunca se sabe o que vai na cabeça de qualquer adolescente.
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