quarta-feira, 16 de agosto de 2023

Falta de luz

Tinha por objectivo escrever sobre o facto de não ter objectivos. O problema é que a noite está a cair e perdi a oportunidade de o fazer. Para meditar sobre a vexata quaestio de não ter objectivos é necessário que a luz do sol brilhe. Para quê? Para iluminar a meditação e evitar que me arraste por caminhos tortuosos. Leio ao acaso, num livro que hei-de começar a ler um destes dias: As voltas e reviravoltas dialécticas da Fenomenologia de Hegel constituem sem dúvida uma doutrina esotérica. Também algumas considerações que faço por aqui constituem partes de uma doutrina esotérica, mas que é de tal modo secreta que nem o seu autor, talvez por ser destituído de inclinação dialéctica, a consegue decifrar, apesar de ter sido, noutros tempos, iniciado em diversas dialécticas, entre elas a do senhor Hegel. Há quem ache, porém, que o problema do autor reside no facto de possuir uma mente confusa, uma mente a que falta clareza e distinção, como se pode ver pela proposição tinha por objectivo escrever sobre o facto de não ter objectivos. O livro onde Hegel é trazido à colação tem por título Sinceridade e Autenticidade, de Lionel Trilling, publicado em Portugal pela Imprensa da Universidade de Lisboa, uma editora com um belíssimo catálogo, apesar de relativamente exíguo. O que me levou a comprar o livro foi o índice. Este contém a designação de seis conferência dadas pelo autor em Harvard, no ano lectivo de 1969/1970. Por exemplo, a segunda conferência, ou palestra como é designada, denomina-se “A Alma Honesta e a Consciência Desintegrada”. Agora, é noite escura, altura pouco propícia a meditações luminosas, apesar da opinião contrária de S. João de Ávila.

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