Tinha por objectivo escrever
sobre o facto de não ter objectivos. O problema é que a noite está a cair e
perdi a oportunidade de o fazer. Para meditar sobre a vexata quaestio de
não ter objectivos é necessário que a luz do sol brilhe. Para quê? Para
iluminar a meditação e evitar que me arraste por caminhos tortuosos. Leio ao acaso,
num livro que hei-de começar a ler um destes dias: As voltas e reviravoltas dialécticas
da Fenomenologia de Hegel constituem sem dúvida uma doutrina esotérica.
Também algumas considerações que faço por aqui constituem partes de uma
doutrina esotérica, mas que é de tal modo secreta que nem o seu autor, talvez por
ser destituído de inclinação dialéctica, a consegue decifrar, apesar de ter
sido, noutros tempos, iniciado em diversas dialécticas, entre elas a do senhor
Hegel. Há quem ache, porém, que o problema do autor reside no facto de possuir
uma mente confusa, uma mente a que falta clareza e distinção, como se pode ver
pela proposição tinha por objectivo escrever sobre o facto de não ter
objectivos. O livro onde Hegel é trazido à colação tem por título Sinceridade
e Autenticidade, de Lionel Trilling, publicado em Portugal pela Imprensa da
Universidade de Lisboa, uma editora com um belíssimo catálogo, apesar de
relativamente exíguo. O que me levou a comprar o livro foi o índice. Este
contém a designação de seis conferência dadas pelo autor em Harvard, no ano
lectivo de 1969/1970. Por exemplo, a segunda conferência, ou palestra como é
designada, denomina-se “A Alma Honesta e a Consciência Desintegrada”. Agora, é
noite escura, altura pouco propícia a meditações luminosas, apesar da opinião
contrária de S. João de Ávila.
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