Hoje já fiz uma viagem de ida
e volta de doze graus Celsius, mais doze para lá, menos doze para cá. Mesmo cá,
porém, há graus a mais. Isto impede-me de caminhar, de fazer quilómetros e
pontos cardio, coisa que o meu coração, suponho, agradeceria, embora eu
só vejo a minha cara, e quem vê caras não vê corações, segundo a sabedoria
popular. Resta-me beber água, para me hidratar. Até comprei uma garrafa
daquelas que os bebedores inveterados de água usam. Como tenho sempre uma certa
inclinação para o cepticismo, não sei se quem transporta esse tipo de garrafas,
em vez de água, tem lá xarope de limão ou groselha, talvez aguardente. Por
exemplo, as garrafas que têm pretensão a serem garrafas-termo podem conter um
belo Alvarinho fresco e a pessoa vai-se hidratando sem descurar o prazer. Este
é o problema da hidratação. A água é, lamentavelmente, incolor, inodora e
insípida, ao contrário do Alvarinho, que tem cor, odor e sabor. No términus da
viagem, decidi ir almoçar a um lugar na moda por aqui. Não bebi um Alvarinho,
mas um rosé da Bairrada, que fez muito bem o seu papel. Não apenas tinha odor e
sabor, mas uma cor belíssima, discreta. O sítio tem uma garrafeira, ao lado do
restaurante, de boa qualidade. Tinha à venda umas garrafas de vinho clarete, coisa
que, depois de décadas de abandono, parece estar em recuperação. Custavam 41
euros e eu pensei que tinham endoidecido. Dei uma volta pelo mercado online e
descobri que há garrafeiras a pedir quase 50 euros por uma dessas garrafas. Tentei
perceber as razões e lá descobri que o vinho foi produzido num processo
relativamente complexo e que merece ser guardado, pois promete muito com o envelhecimento.
Não me deixo tentar, pois olhando para a minha experiência, o envelhecimento
não me tornou melhor em nada. O mais avisado é ficar por alguma coisa que seja
incolor, inodora e insípida, tal como eu.
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