Ontem acabei a postagem com a referência à visão – literal – das minhas netas da pessoa do Papa. Só mais tarde recebi a notícia de que o meu neto também viu sua Santidade. Imagino que ele, a caminho dos cinco anos, não faça a mínima ideia de quem seja o Papa. O primeiro Papa de que me lembro foi de João XIII. Não propriamente dele, mas da sua morte, portanto já não era ele. Era coisa que os noticiários não calavam. Nunca esqueci esse facto, mas era mais velho que o meu neto é agora. Ele irá esquecer o acontecimento. Constou-me que Lisboa está uma animação. Francisco parece-me um desafiador de dragões, mas não estou certo de que seja um S. Jorge, apesar do nome civil. Os dragões são uns finórios dissimulados e fingem que as estocadas que caem sobre o seu corpo escamoso nada têm a ver com eles, convencidos de que possuem um poder de regeneração mais forte do que a ousadia daquele que conspira para os liquidar. Esperam que o Papa se torne, como este narrador, num cavaleiro da triste figura, um D. Quixote de que se rirão. Longe da capital, entrego-me à difícil tarefa de nada fazer. É preciso ser claro. Não me devoto ao lazer, nem ao ócio, tão pouco à preguiça ou sequer sofro de acédia. Obrigo-me à suspensão de fazer seja o que for. Nem praxis, nem poeisis. Isto é, nem me entrego a pôr em prática uma teoria ou ideia, nem a dar origem a qualquer coisa que antes não existia. Poder-se-á discutir qual dos vocábulos gregos - πρᾶξις ou ποίησις – é esteticamente mais agradável à vista. Por mim, prefiro a contenção da ποίησις. O ξ dá à πρᾶξις uma exuberância desnecessária. Imagino que o Csi (ξ) seja uma espécie de antena, talvez um antepassado do Bluetooth, que liga a teoria que está na mente à vontade que impele a materialidade do corpo a fazer qualquer coisa, que, por norma, não devia ser feita. Portanto, uma transferência de dados, o que me parece ultrapassar o decoro com que nos devemos pautar, pelo menos nos dias de Agosto, ainda mais quando somos visitados por um Papa que combate dragões. Mais logo, terei de fazer uma ronda pelos netos, para saber qual deles viu hoje o Papa. Talvez isto seja já um pecado contra a minha decisão de nada fazer. Por certo, se confessado, será perdoado.
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