Decidi-me pela leitura de Mistérios,
de Knut Hamsun. O escritor norueguês é um caso curioso. A sua biografia tem
aspectos, no campo político, nada recomendáveis, pelos quais pagou, embora um
preço muito mais baixo do que o pago pelo escritor francês Robert Brasillach.
Do ponto de vista literário é um dos precursores – senão mesmo dos cultores –
do modernismo, ao mesmo tempo que, enquanto pessoa, era um anti-moderno, embora
afirmando, de forma hiperbólica, uma das características da modernidade, o
individualismo. É possível que seja desta amálgama ideológica que nasça o poder
de atracção que têm as suas narrativas. Pode-se pensar que escolher entre duas
obras qual ler em primeiro lugar é uma aventura irrelevante. Sê-lo-á apenas na
aparência. Nunca se tem em contra nem o drama da deliberação, com o seu pesar
dos prós e contras, nem a tragédia da decisão, que implica sempre eliminar
todas as alternativas menos uma. Em toda a escolha há um elemento trágico, uma
negatividade que se consuma. E tudo isso traz consigo um enorme cansaço e uma
indisposição para partilhar os pensamentos íntimos e as feridas a sangrar no
recôndito da alma, caso este tenha veias e artérias.
Sobre vasos sanguíneos:
ResponderEliminarEste cansaço, esta indisposição; ou esta alma?
Sobre a tragédia da escolha, janto a ouvir Madama Butterfly;
Sobre o despovoamento aconselho The Seven Year Itch, do Billy Wilder.
Tendo em conta as temperaturas nacionais, fico-me pelo filme do Wilder. A Butterfly, lá mais para o Outono. O calendário também tem os seus imperativos.
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