quinta-feira, 12 de outubro de 2023

Preocupações

Preocupa-me, a sério que me preocupa, o mundo. Não o que se passa na Terra, mas no mundo como totalidade. O que me tem estragado o dia é a indecisão em que a minha mente caiu. Será que o mundo teve um começo ou é eterno? Se ele teve um começo, o mais plausível pensar é que terá um fim. Se o mundo tiver um fim, o que poderá acontecer? A resposta mais óbvia é: não vai acontecer nada, pois nada existe que possa sofrer modificação e assim se possa falar de um acontecimento. Se, porém, o mundo é eterno, então instala-se uma monotonia sem fim, pois os acontecimentos sucedem-se sem parar, e por diferentes que sejam, o próprio suceder torna-se monótono. A princípio pode-se achar graça, as pessoas sentem-se num filme de acção onde sempre se passa qualquer coisa de vibrante, mas se o filme tiver mais de duas horas, o espectador começa a mexer-se na cadeira, cansado de tanta acção e deseja que o filme tenha um rápido fim. É isso que acontece connosco, seres humanos. A história do mundo começa a cansar-nos, o trepidar sem fim dos eventos exaure-nos a paciência. É por isso que morremos. A morte deriva directamente da eternidade do mundo, é uma defesa contra a monotonia que uma existência eterna sofreria perante um mundo sem começo nem fim. Pode-se argumentar, e haverá quem o faço, que essa explicação da mortalidade humana só faz sentido caso o mundo seja eterno, mas se não for? Neste caso a explicação muda, claro. Muda porque as condições também são diferentes. Morremos por solidariedade com o mundo. Sendo ele finito, não faria sentido que nós não nos irmanássemos no seu destino, antecipando-o, para dar coragem a esse mundo que um dia irá acabar. Não consegui resolver o dilema sobre se o mundo teve um começo ou se será eterno, mas encontrei duas explicações irrefutáveis sobre a mortalidade humana. Este é o meu contributo semanal para o progresso do conhecimento no mundo.

8 comentários:

  1. É inquestionável que temos uma validade, para além de decidirmos o que queremos fazer com ela. Agrada-me a ideia de validade, de ir deixando que me sucedam, até porque me sinto cansada. Se o mundo também está gasto e cansado como eu, é possível, mas desejo que ele não acabe com o meu fim. Nesse fim iminente, nessa validade, excluída da razão, somos como os animais. Devíamos pensar mais nisso: que somos todos parte da mesma matéria luminescente das estrelas, e datados há muito, muito tempo, para que o universo continue.

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    1. Há sempre a possibilidade de ser eterno, o mundo. Nesse caso não teria prazo de validade. Quanto a nós, a invalidade é a nossa casa. Somos inválidos por natureza.

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    2. O mundo (dependendo de o mundo), quanto a mim, não tem prazo de validade (tanto quanto sei), mas nós, humanos e animais, geneticamente, temos. Sabemos que, determinados hábitos nos fazem perder ou ganhar *pontos cardio*, ou outras coisas, mas temos a certeza da nossa finitude, para não dizer, em extremo, decrepitude. A questão também é a seguinte: quem, em seu juízo, quer ser decrépito? É todo um conceito de perder o egoísmo artrósico e deixar fluir a alma.

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    3. Estou numa fase de perder pontos cardio, o que acentua a certeza da finitude. Se e quando se chegar à decrepitude mais radical talvez não se dê por isso.

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    4. A questão é metafísica: porque é que os velhos ainda querem ser mais velhos, pondo em risco os descendentes? É estranho, e talvez contra-natura. Eu dou a minha vez.
      Percebo que no desvaire de viver para sempre se perca a noção da altura certa. Já foi aos quarenta, aos cinquenta e aos sessenta. Agora é aos noventa e aos cem. Puro devaneio.

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    5. Mas, Sr. Peregrinatio, porque havemos de ter todos o
      What a Fuck da Netflix?

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    6. Não faço ideia. E não a tenho. Não me lembro de ter visto alguma coisa na Netflix, mas também não faço ideia se não a ter é virtuoso.

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    7. A alusão é a O Sol do Futuro, de Nanni Moretti.

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