Fosse
eu um modelo de linguagem da inteligência artificial, e tudo seria mais fácil.
Bastava acertar no prompt e tinham um texto debitado em poucos segundos.
Isto levou-me a uma experiência com o meu chatbot preferido. Pedi-lhe,
tendo em conta as minhas interacções com ele, que fizesse um perfil meu. Não se
coibiu e, em pouco segundos, disse-me que eu tinha interesses em linguística,
história da língua portuguesa, tecnologia e inteligência artificial. Afirmou
que eu usava um estilo de comunicação formal, preciso e cuidadoso e que me
preocupava com o conhecimento e valorizava a tradição (uma acusação de
conservadorismo). Por fim, não se esqueceu de me dizer que eu, este narrador
sem nome, era reflexivo, dado aos detalhes (isto é, um chato), curioso e
comprometido (na verdade, sou casado e não apenas comprometido; esta é uma piada
sem graça, mas cada um tem o talento que tem). Este repertório das minhas hipotéticas
qualidades alertou-me para uma coisa. Se alguma vez precisar de um psicanalista,
o que começa a ser tarde, o melhor é recorrer ao meu chatbot. Certamente
que me interpretará os sonhos, fará associação livre e me ajudará na
autodescoberta, levando-me à cena primitiva que estará recalcada no fundo sem
fundo do meu inconsciente. Eu não sou um modelo de linguagem, não consigo ter a
prontidão discursiva de um desses modelos, mas também sei, descobri-o agora,
que, se precisar de me auto-analisar, já sei a que porta vou bater. Adeus, dr.
Freud.
Sem comentários:
Enviar um comentário